sexta-feira, 31 de maio de 2013

la cucaracha ya no puede caminar.

No dia em que eu cheguei a esta nova casa avisaram-me logo: de vez em quando, há um senhor que bate à porta para fazer o tratamento de choque às baratas. O assunto não me assustou - confesso - mas ficou por aí.
Uns dias mais tarde reparei que, sempre que entrava na cozinha de manhã - sou geralmente a primeira a levantar-me e a primeira a tomar o pequeno-almoço - havia movimentações: as pequenas cucarachas atrevidas passeavam-se pela bancada de vez em quando.
Hoje, ao jantar, um dos franceses disse qualquer coisa da cozinha para a sala: não percebi muito bem o que tinha dito mas percebi que, no fim da frase, tinha-se queixado do raio das cucarachas. Perguntei-lhe da sala, ainda de prato ao colo, o que se passava. "Anda ver", disse-me. Uma barata - que é capaz de ser a mãe de uma das pequenas que andam desorientadas de manhã - subia a parede ao pé do frigorífico.
Disse-lhe: "Mata-a".
"Como?", perguntou.
Descalcei a bota direita e bati com ela na parede. A barata caiu no chão, de carapaça para baixo. Capotou. O francês suspirou de alívio. Voltei a calçar a bota, peguei num guardanapo, a barata dentro do guardanapo, directamente para o lixo.
Esta já era.  

quarta-feira, 29 de maio de 2013

um mês em buenos.

Passou num instante: ainda ontem estava a pagar excesso de bagagem e a preparar-me em prazo-relâmpago para embarcar e, agora, já passou um mês. Entretanto vivi em três casas diferentes, encontrei o meu canto, já dancei tango e já comi várias empanadas e bebi várias Quilmes. E os sabores das coisas continuam a parecer-me novos ainda que, ao mesmo tempo, já tudo me pareça tão familiar. Entretanto, continuo a andar com o guia na mochila, não vá dar-me uma branca. Mas os percursos mais comuns já estão sabidos. E os outros, nem faço questão de os decorar: a ver se mantenho a magia nos 11 meses que me faltam para a despedida. 


domingo, 26 de maio de 2013

buenos sábados #4

ganhar a manhã a recuperar as horas de sono perdidas. tomar pequeno-almoço na praça. passear pelo mercado. passar na lavandaria. descansar em casa. liga dos campeões. recolher a roupa lavada. preparar para jantar. bife de chorizo <3 com legumes grelhados. pinot-noir. dançar. conversar em três línguas diferentes. regressar a casa. preparar para dormir. buenos sábados: já lá vão quatro.

terça-feira, 21 de maio de 2013

três chicos e uma miúda.

O trabalho de hoje na escolinha era escrever uma história de vida de um colega. Fui entrevistada por duas colegas - força das circunstâncias de sermos 23 e ter sido eu a ficar sem par - e uma delas perguntou-me porque tinha vindo morar com três rapazes, se não teria ficado preocupada por viver com três homens. "Ficava preocupada se tivesse que viver sozinha", respondi. 
A verdade é que esta semana que passou - a primeira desde que estou cá em casa - foi bastante divertida. Três nacionalidades na mesma casa não deixa de ser um desafio interessante, não só pela mistura de línguas como pelas coisas engraçadas que acontecem. E dois franceses - um que nunca dorme mas trabalha em casa, outro que hoje passou o dia todo no quarto - e um inglês maluco por cozinha e por cozinhar parece-me uma boa combinação. Só para terem uma ideia agora, neste momento, na sala, está um acabado de chegar do squash, outro sentado à mesa a comer uma lasanha pré-cozinhada e outro deitado no sofá a contar como foi a última aula que deu na escola inglesa (dá aulas de inglês a argentinos). E antes perguntaram-me o que eu achava da nova x-box. "Estava à espera de mais.", disse um deles. Acenei com a cabeça. Quem não está?




segunda-feira, 20 de maio de 2013

rotina mas não muito.

Ando entre aulas, sondagens de rua, ideias de trabalho, procura de outro trabalho. Ando entre entrevistas via skype, promessas de entrevistas por email. Ando entre o meu novo número de telefone apontado num papel azul e os encontros e telefonemas que ainda tenho que fazer. Ando assim. E hoje ainda aproveitei para ir comprar um tapete para evitar os pés no chão frio quando saio da cama. E substituí as flores que tinha nas jarras. Está bem catita.



sábado, 18 de maio de 2013

buenos sábados #3

deitar tarde e acordar tarde. aconchego de sofá, ainda de pijama, a tomar o pequeno almoço. tomar banho, vestir quentinho, secar o cabelo. sair, aconchegar o casaco ao pescoço, proteger do vento frio e da chuva que começa. cair no chão, num voo picado, joelhos feridos e mãos magoadas. ver que rasguei as calças nos joelhos. levantar, agradecer ajuda à rapariga que entretanto tinha parado para me ajudar, olhar para uma montra e pensar que os joelhos me doem mas que preciso mesmo de um tapete para aconchegar os pés do chão frio assim que saio da cama. supermercado, talho. quiosque. comprar a time out buenos aires. chegar a casa, cozinhar. comer. matar saudades no skype. ler. escrever. procurar. convite para jantar. buenos aires, buenos sábados. mais um-zinho.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

claro como água.



Dou-me conta de que já não escrevo há dias. Agora vou escrever.
Não sei quando comecei a lê-lo, mas este blog é um dos meus favoritos (não só pelo estilo e pelas roupas de sonho da miúda mas sobretudo pela maneira divertida e interessante com que fala da vida em geral). Hoje, acabada de chegar a casa do único dia da semana em que vou à universidade, dei de caras com o vídeo acima.
A verdade do "This is water" é mesmo esta: ver para além das coisas evidentes, ter a liberdade de escolher aquilo que vemos, aquilo que queremos ver e como o queremos ver. Tenho a certeza que os dias em que acordo mais bem disposta são os dias que, no fim, correm melhor.
A verdade é que nunca nos devemos dar demasiada importância mas devemos ter sempre a certeza de que temos um papel fundamental na nossa vida: também depende de nós a nossa relação com os outros, a maneira como os outros nos vêem e o modo como nos relacionamos com o mundo. Nós temos papel activo no mundo de que fazemos parte e nem vale a pena dizer que não ou garantir que "não interessa o que os outros pensam". Claro que interessa. E isso depende muito de nós. O resto... bem, o resto é água.

domingo, 12 de maio de 2013

easy like sunday morning.


Domingo de sol que é domingo de sol, tem tudo para ser catita se for aproveitado na rua. Isto é verdade em Lisboa, em Madrid e, claro...em Buenos Aires. Por isso, assim que soube do Buenos Aires Market (um mercado onde se come, bebe, passeia e se podem comprar todo o tipo de produtos biológicos), os planos foram: fazer tudo e ir. 
Sorte das sortes, este mês o Buenos Aires Market estava marcado para os Bosques de Palermo (a uns 20 minutos a pé da casa nova). Máquina fotográfica em punho e dinheiro na carteira, mandei-me a pé para o bosque. Solinho bom, muita gente na rua, música boa, umas palestras sobre comida saudável prestes a começar e muita gente a fotografar e a filmar estes senhores abaixo que, da bicicleta montam o wok e fazem cuscus com vegetais. Só ainda não os provei: escolhi um hamburguer biológico na banca da Mariana (25 pesos) e um sumo de maçã, framboesa e banana (22 pesos): o almoço ficou por menos de 7€. Quanto ao wok, fica para a próxima. Para o mês que vem o mercado muda de poiso, como todos os meses. As datas e os locais estão aqui













sábado, 11 de maio de 2013

buenos sábados #2

acordar cedo. arrumar, limpar, refazer malas. apanhar roupa, estender roupa. tomar banho. vestir. avenida brasil ao pequeno-almoço. queque com dulce de leche. arrumar. arrastar as duas malas grandes, uma mochila, um saco de viagem e um saco de supermercado primeiro pelo corredor, depois para o elevador. tirar tudo do elevador. arrastar tudo até à porta do prédio. arrastar tudo para o passeio da rua. esperar. chamar um táxi. sem sucesso. chamar dois táxis. sem sucesso. chamar três táxis. sem sucesso. chamar o quarto táxi - quase no meio da estrada. sucesso! arrastar malas para dentro do táxi. uma na mala do carro, outra no banco de trás. pôr o cinto. seguir. tocar à campaínha. esperar que alguém desça. arrastar malas escadas acima, elevador acima, corredor adentro. esperar que o quarto vague. arrastar malas até ao quarto. limpar. desenmalar. sucesso! comprar flores. comprar vela de cheiro. decorar. primeiro dia do quarto novo. buenos aires, buenos sábados. está tudo bem.  


habemus casa.

Esta é a notícia do dia, da semana, do mês! Habemus casa porteña. Não fez ainda duas semanas que aterrei em Buenos Aires, já passei por duas casas e parece que, à terceira, é de vez. E sei que meu quadro preferido na parede [bueno, una cópia, una cópia] só pode ser bom sinal. Está tudo bem. Viva!



quinta-feira, 9 de maio de 2013

a conversa em dia.

Ontem escrevi tanto que, no fim, não sabia o que escrever aqui. Refugiei-me na página do Facebook - que facilita a interacção e mantém os blogs mais perto dos seus leitores (além de ser um apoio perfeito para os leitores mais preguiçosos) para me queixar. Foi a desculpa perfeita.
A verdade é que escrever queima a cabeça. Falta-me depois a originalidade das expressões para tornar a escrita do blog interessante. Porque, mesmo que os assuntos muitas vezes sejam triviais, há gente que inscreve e que encanta, mesmo nas coisas mais básicas e normais do mundo.
Um acordar pode ser do mais poético se for bem contado, com os condimentos certos. Uma refeição pode ser interessante quando bem fotografada, bem bebida, bem conversada, bem acompanhada. Um beijo pode ser de sonho quando o ambiente é muito mais do que aquilo que um beijo é.
Quem escreve sempre bem tem a vantagem de escrever sempre interessante: assim, mesmo que a vida seja comum e nada de especial, os relatos vão parecer sempre espectaculares. 

domingo, 5 de maio de 2013

buenos sábados #1

acordar cedo. entrar no metro. ir ver um quarto pequeno numa casa onde não me deixam cozinhar carne. sair. sentar-me num café. matar saudades ao telefone. aproveitar a internet paga por um café e uma tosta mista. sair. andar a pé. perguntar na rua. chegar, ver outro quarto com chão de tijoleira que deve ser um gelo no inverno, agradecer. sair. encontrar um café fofinho numa rua que eu vou fazer questão de visitar mais vezes. sentar-me e ficar um bom bocado a beber uma limonada com hortelã e gengibre e a comer um bolinho com doce de leite. voltar a pé, voltar de autocarro. arrumar as coisas. domingo é dia de mudança de casa. e este sábado, menos um em Bs As.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

organiza!

Dá um trabalho dos diabos sair da rotina. Há cinco dias meti-me num avião rumo ao outro lado do mundo. Expliquei sucintamente às pessoas a quem importava explicar que quero mais: mais do meu dia a dia, mais da minha vida, mais da minha profissão, mais de mim. Não que não me chegue o aconchego de casa aos fins-de-semana [até já lhe sinto a falta e só passaram cinco dias], o prazer - e o privilégio - de poder escrever todos os dias sobre tanta gente interessante e inspiradora (aiii os meus fazedores!!!) mas queria ter que pensar outra vez. Ler outras coisas, conhecer outras pessoas, trocar ideias com outros jornalistas.
A verdade é que é muito mais fácil ficar na rotina de sempre do que mudar. Ando à procura de casa, de quarto, de um sítio para onde possa despejar as duas malas que trouxe com a minha vida. Ando à procura de uma nova rotina, de uma habituação a novas ruas, a novos hábitos, a uma nova cidade.
Mas mudar também é uma janela de oportunidades: a primeira, a de me desfazer de coisas que já não uso, de que já não preciso [e os sacos que ficaram para trás com sapatos, roupa e outras porcarias que me foram enchendo a casa]. Segunda, a oportunidade de ser diferente: posso cometer erros mas sempre sabendo que, só querendo, cometerei os mesmos erros; a verdade é que mudar de sítio e de rotina dá a oportunidade de sermos outros, de sermos novos: e essa é uma oportunidade que não devemos desperdiçar.

Ando a ver se me organizo: o fuso-horário dá cabo de mim [acordo muitas vezes à noite, corro para o computador mal saio das aulas para falar com o outro lado do mundo], o trânsito arruína-me os horários e ainda não consegui activar o meu telemóvel. De qualquer maneira não há pressas: tenho todo o tempo do mundo para me ambientar. Ou, pelo menos, até à próxima mudança.