segunda-feira, 1 de julho de 2013

dois meses de bsas.

Há as palavras dos poetas que eu reconheço nos meus dias, quando me lembro de versos decorados. Os sonhos todos do mundo em mim, o querer ser grande para ser inteiro, as pedras no caminho e outros tantos que inspiram - em que nos reconhecemos sempre que lemos, relemos, voltamos a ler.
Depois, além dos poetas que falam e escrevem em português, há a vontade de fugir aos jornais diários - já que à televisão fugi já há muito tempo - há uma revista encomendada e uma queijada-surpresa, trazidas em correio express dentro de uma mala de mão num avião (juntamente com o cash sempre tão preciso neste país onde um euro pode valer metade ou o dobro, dependendo do sítio onde se troca). Os dias aqui são diferentes: tenho mais tempo para pensar no agora e no que aí vem. Tenho mais tempo para pensar nas amigas que deixam de escrever para o jornal diário - hoje foi uma, na semana que vem será outra - não por falta de talento mas por falta de oportunidade. E aí, nesse poema dos dias que podia muito bem ser transformado num fado sem refrão - ponho em perspectiva a decisão de há três meses, a notícia que chegou depois de tantos planos feitos na minha cabeça, os anúncios e os pedidos que fui fazendo, a histeria dos amigos que me querem perto querendo-me bem, a alegria tímida dos pais que não sabem se hão-de rir ou de chorar perante os mais-de-nove-mil-quilómetros-de-distância.

Há aqui a urgência dos dias que passam rápido, a aflição de, para onde quer que queira ir, tardo a chegar, a certeza de que é isto que eu quero fazer, de que é disto que eu gosto. Há o quentinho de um mate com água não fervida quando chego da rua, onde há frio de um inverno que, mesmo assim, parece ainda não ter chegado. Há aqui a surpresa dos percursos nunca feitos, o conforto com as expressões repetidas - mira vos boludo, qué bien hablas, qué se yo! -, o prazer de chegar a casa e poder não pensar em nada ainda que não seja capaz de o fazer. Há nesta cidade - no facto de estar aqui - uma sensação de que, há um ano e meio, quando cá vim pela primeira vez, prometi voltar e cumpri a promessa. Por isso, há vontade de descobrir mais: há tantos parques quanto avenidas gigantes, tantas expressões quanto horas de ponta. Há investimento em livros em 2ª mão recomendados que me podem servir de inspiração para coisas que ainda não sei que posso fazer. Tenho esse tempo, já sei. E essa oportunidade foi criada não só mas também por mim.



1 comentário:

  1. Olá Mariana!
    Bem que a Sofia nos alertou de que ao chegar até "aqui", o difícil seria partir e deixar para conhecer TUDO no mesmo dia...
    Parabéns por nos brindar com um olhar "de fazedor" sobre a Argentina e suas coisas, suas pessoas, seus lugares, seus problemas, suas nuances...
    Volto daqui a pouquinho, mais um pouquinho...
    Bjkas
    Mila

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