quarta-feira, 17 de julho de 2013

visa

Buen día, como va? Una pregunta... tiene parada en Libertador con Esmeralda. Sí? Dale. 
Uno con sesenta. Um peso e sessenta. Uns 16 cêntimos, se fazemos as contas ao euro trocado no mercado blue, o negro. Uns 23 cêntimos, se fazemos as contas ao euro oficial. Entro no autocarro. São quase nove da manhã. Tenho marcação nas Migraciones, o SEF cá do sítio, às 10h. No site criado pelo governo da cidade de Buenos Aires (uma das invenções do século na cidade e venerado por porteños e estrangeiros, que basicamente, com a morada de partida e de chegada dá todas as opções de transporte e simula a duração do percurso), o caminho entre minha casa e o sítio onde vou tratar no visto demoraria 36 minutos. Uma hora, não vá o trânsito atrasar o "recorrido", não vá o condutor decidir ir por outro caminho, não vá um cego tentar entrar, o condutor não deixar o cão-guia segui-lo para dentro do autocarro e sermos quase parados pela polícia, entre queixas, telefonemas para as autoridades e outros tantos filmes (SIM, sim, já me aconteceu).

O autocarro está cheio, como a quase todas as horas. Há muita gente a empurrar-se, os motoristas perguntam sempre se podem fechar as portas - muitas vezes já´em andamento - porque mal conseguem ver para além doassento que, ainda assim, está à altura da maioria dos passageiros. Escolhi o dia de folga para ir às Migraciones tratar do visto depois de, finalmente, ter todos os papéis que me pediam. Certidão de nascimento e registo criminal português, traduzidos e autenticados com selo da Apostilha de Haya; registo criminal argentino, pedido no centro de Buenos Aires, mesmo perto do Obelisco, depois de quase uma hora na fila mesmo com hora marcada, e depois impresso passados cinco dias, quando ficou disponível no site oficial; certidão de residência, pedida na polícia aqui do bairro e enviada para a minha nova morada dois dias depois; dois comprovativos de que ando a estudar em Buenos Aires e 600 pesos (pouco mais de 60 euros, a la mercado negro). 

Chegada à Esmeralda con Libertador, o motorista faz-me sinal. Saio pela porta da entrada do autocarro - com a devida autorização, por supuesto - e pergunto no quiosque da esquina pela Avenida Antártidas Argentinas. Diz-me que siga, atravesse, e siga sempre em frente. Vou dar com ela. Ando, atravesso e volto a perguntar. O dia está bonito, sol de inverno quente (devia ter levado os óculos de sol) e vento frio. Pergunto outra vez: dois rapazes distribuem papéis a promover a esquerda contra governo e apelam a uma manifestação, esta terça, dia da independência, na Plaza de Mayo. Este é o país das manifestações, dos paros. Esta segunda, por exemplo, não havia dinheiro nos multibancos: havia greve de camionistas, encabeçada por Hugo Moyano, um dos líderes sindicalistas argentinos e que integra a lista de De Narváez (o tal político a quem nós tivemos a oportunidade de fazer algumas perguntas naquela conferência de imprensa preparada pelo mestrado e que é um colombiano, rico, dono de várias de empresas e que resolveu em 2002 dedicar-se à política - e que chegou, depois, a ganhar a Nestor Kirchner...mas isso são outros quinhentos).

Sigo pelo Retiro. Muito lixo no chão, muito camião, muito autocarro, um descampado cimentado, se riscos no chão e com poucos semáforos onde os peões se sentem a mais. É isto, basicamente. Ando uns 15 minutos, pergunto outra vez. Uma rapariga diz-me que acha que estou a andar na direcção errada. A avenida não tem números, não consigo revê-la no mapa. Tenho o número guardado no telemóvel. Sigo pelo lado direito, atravesso sem semáforos nem passadeiras, tento ouvir as conversas das pessoas que estão nos passeios a ver se alguém fala na palavra mágica: Migraciones. Dois homens, engravatados, sotaque argentino, são apanhados no meio da conversa. Sigo-os. Passamos pela central dos correios (penso no quanto gostava de lá fazer uma reportagem para tentar perceber porque raio o correio demora duas semanas a chegar, seja azul ou normal), passamos pela Armada, vários rapazes fardados tocam corneta. Finalmente, num edifício baixo, pintado de um amarelo que já pouco se nota, um placard anuncia. Uma hora e meia depois, estou lá. Nas Migraciones. Entro, a escada para os estrangeiros Extra-Mercusur está tapada com uma secretária. Um segurança pergunta-me de onde  sou, Portugal, respondo. E diz-me que sim, que posso passar, que estou bem. Pergunta-me se tenho tudo. Passaporte, vez marcada na internet e uma fotografia tipo passe. Fotografia? Como assim, fotografia? Não tenho. E, pior do que isso, é não ter dinheiro para a tirar. Diz-me que posso voltar à estação do Retiro e tirar lá. Ora bem, passo a explicar: greve de camionistas, 604 pesos na carteira, multibancos fora de serviços, manhã perdida. Estamos entendidos? Pois sim. Chego à estação. Multibanco fora de serviço. Pergunta a um polícia. Diz-me que há mais, mais longe, mas que também não devem ter dinheiro. Ora bem. Sheraton, pode ter menina. Vá lá ver, 10h45. Sheraton. Desculpe, mas nem para os hóspedes temos. Às vezes vêm enchê-lo duas vezes por dia. Muito obrigada, até à próxima. Há mais dois multibancos nas redondezas. No primeiro, já há autocolantes colados nos ecrãs. Fora de serviço. Segundo, um Santander escondido no meio de tapumes, com canos à vista à entrada e uns andaimes sem cor. Olhar de esperança de quem estava na caixa antes de mim. 11H00. Yes! Há dinheirooooo!!!

Pois bem, dinheiro levantado, é preciso tirar as fotografias. Na busca pelo multibanco, havia uns miúdos nas traseiras de uma bomba de gasolina a oferecer-se para tirar fotografias. Fundo branco, 25 pesos, espectacular. Lá vou eu! Eu quero, eu quero. Ora bem, vá com este boludo à estação? Como assim, outra vez à estação? Lá vou eu. Tirar fotografias, lindas como sempre, favorecedoras como sempre. Quatro metidas dentro de um saquinho de plástico transparente, dê-me cá as outras quatro, no hace falta que se quede con ellas. 30 pesos, lá vou eu, 11h15, migraciones. Fila número 1, impressões digitais, fotografia colada num papel que me atribui a vez. Número D48, vai no 44. Não há-de faltar muito, não é verdade? Não. 40 minutos depois, lá vou eu. Um homem careca, de barba, pede-me os papéis. - Este está bem, este também, mas vai ter que voltar para a semana. Como assim, voltar para a semana?. - O seu registo criminal não podia ter sido traduzido em Portugal. Mas foi o que me disseram na Embaixada da Argentina em Lisboa. - Disseram mal, eles não sabem. Vá a esta morada, peça um contacto de um tradutor. Depois, peça ao tradutor para traduzir, pague-lhe, e volte a esta morada para ser Certificado. E depois volte cá, mas atenção às datas, porque isto expira num mês. 

Meto-me num táxi, sigo directa para a morada. 25 pesos. A morada não existe. Eu procurava o 819. Passa do 801 para o 821. Muito bem, que catita. Entro numa loja, pergunto se sabem onde raio está o número, que me disseram nas Migraciones que o colégio de tradutores seria ali. Que não, que não sabem, mas que se quiser podem ver na internet. Agradeço, muchas gracias. Parece que a morada é outra, a quatro quarteirões, noutra rua, noutro número. 13h30. Sumo de laranja num Starbucks. Sigo para o Colégio, entro, pergunto. - Pode escolher entre estes 40 tradutores, ir lá, falar com eles, perguntar quanto custa e quanto demora. Pedir a tradução. Mandar fazer, e depois voltar cá para certificar. São 110 pesos, se quiser no mesmo dia. 105 para o dia seguinte. Aqui na Argentina é tudo complicado, parece que nada funciona, comento. O segurança, sentado ao lado da recepcionista, responde indignado. "Não venha para o meu país dizer mal que eu não vou para o seu dizer mal do seu, pois não?" Ora bem, para aprender a estar calada. 

Escolho vários, aponto os contactos num papel. Há um no prédio do lado. Saio, toco à campainha do lado. Subo, pergunto. 200 pesos para a tradução, mais 110 se quiser a certificação. Tem a certeza que posso fazer aqui? De certeza que das Migraciones não me mandam isso para trás? - No, tranquila! 

p.s.: Este texto foi escrito na semana passada, no dia da minha estreia nas migraciones. Voltei lá esta semana. Uma hora depois estava safa, de precária na mão. yeah!

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