quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

troco doce.


Não é possível viver em Buenos Aires sem falar de inflação. Esse é "o" tema sempre falado nos jornais e sempre sentido na pele. Tão normal como ir comer fora e deixar gorjeta, porque ela é quase "um dado adquirido" quando se fala em trabalhar em algum café ou restaurante. Como se do ordenado fizesse parte o contributo que o cliente deixa depois de pagar a conta. 

Pouco a pouco aquilo que nos é estranho - o preço da carne aumentar 20% de uma semana para a outra ou o tomate passar, de um dia ao outro a custar o dobro - vai-se tornando coisa normal (ainda que de cada vez que penso nisto me pareca completamente surreal).

Mas há mais. No Carrefour ao lado de nossa casa é comum pedirem-nos trocos quando pagamos com as maiores notas da Argentina. Pagar com notas de 100 pesos (que valem qualquer coisa como 10 euros) são sempre exercício grande quando se fala de troco. Por isso, quando não temos trocado para fazer conta certa, dão-nos o troco em notas e moedas grandes. O resto vem em rebuçados, estrategicamente colocados, ao lado da caixa. Troco doce, nem se questiona.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

buenos sábados #39



o fim de uma viagem é sempre o princípio de outra, dizem. e é dessa constância que se faz também o descompasso, a mudança. mesmo nas coisas mais práticas e simples. isto para dizer que foi na constância da viagem de autocarro - programada para dezassete mas que demorou mais de dezoito - que se fez a mudança de programa do sábado trinta e nove. mudei a rotina para Iguazu e apaixonei-me. a vista e a força e a sensação de pequenez em relação à paisagem e à criação - que aquilo não pode ser coisa do acaso. o calor e a humidade, o verde e o azul, e depressa o autocarro até ao ponto de encontro chega e somos parte daquilo tudo e é tão bom. do Brasil encara-se a catarata, aquela cascata gigante. e ainda há margem para preparar o domingo no lado argentino que - perdoe-me o brasileiro - mas desta vez ficou com tudo. desforra na semi-final da Copa. [que, na final, sonho connosco]. depois é o regresso a Buenos. mais um sábado bom, de seu nome trinta e nove. vamo qui vamo!

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

caras de Kiev.

São só dez fotografias, aquelas que o Huffington Post escolheu - da AFP, da Reuters e da Getty - para contar esta história. Kiev anda em chamas há dias, a capa da Economist diz que o Inferno é de Putin, mas o que é certo é que as revoluções sempre se fizeram de caras que fogem aos protocolos políticos. É de gente comum, que sonha com algo melhor, que faz a mudança. E prova que as histórias só precisam dos jornalistas para as contarem ao mundo: quando são boas, têm a fibra suficiente para se contarem quase sozinhas. Com elas, podia dar-se um curso inteiro de fotojornalismo, diz Giner. Aqui há mais.






domingo, 16 de fevereiro de 2014

buenos sábados #38


voltemos aos sábados porteños. e ao hábito de passear sem check-lists, pontos turísticos obrigatórios. já lá vão trinta e oito, passei de visitante a habitante e tenho que tratar-me como tal. saímos juntos, os quatro portugueses cá de casa, rumo à Recoleta. programa cultural, centro cultural. exposição de fotografia multicultural: as caras de Buenos Aires que fogem ao argentino comum. os chinos, os brasileiros do samba, os transexuais, os grémios de luta contra o poder, as manifestações, a Casa Rosada fechada aos manifestantes e aos outros. há tanta gente por cá, tanta gente diferente - digo - que me arrisco a dizer que até chega a ser difícil identificar, à primeira, um porteño, só pelas feições e pelo sotaque. manhã passada entre o passeio até lá, as sombras dos jardins da Del Libertador, as bicicletas apressadas e os casais de passeio com os cães (que finalmente têm tempo para passearem os próprios animais, durante a semana o passeio é feito por outros e, portanto, pago). já vos disse que aqui ser passeador de cães é uma profissão legislada a nível local? ah, pois é. isso mesmo. 
do passeio do sol para a cadeira da secretária. entre cadernos, entrevistas transcritas e telefonemas para casa, passa mais um sabadão. e depois domingo. e depois começa tudo outra vez até ao próximo. buenos sábados aqui por buenos aires. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

amor é tanta coisa

E também é andar na internet e ver/ler/descobrir coisas bonitas.
Esta ilustração animada da portuguesa Carolina Búzio e a miúda, a caminho do aeroporto, de saia às bolinhas parecida com a minha saia Obama.
Esta declaração de amor e este love actually em Nova Iorque.
Voltar a escrever neste blog, ainda que sejam disparates (isso também é amor).
Acompanhar sempre esta página de Facebook e o meu Instagram.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

buenos sábados #37


há trinta e seis sábados que passava o dia em Buenos Aires. este sábado - com visita de quinze dias - metemo-nos no comboio e fomos a Tigre. fica na memória a surpresa de poder usar a SUBE para pagar o bilhete, o preço baixo que sempre espanta, a confusão à entrada do combóio. o vendedor de bolinhos feitos por uma associação de luta contra a droga e a toxicodependência e a resistência àqueles alfajores con dulce de leche que tanto deleitam como engordam. fica a gargalhada de perceber que o vendedor, depois de anunciar os bolinhos, carrega no botão play da lata de Coca-Cola que trazia na mão-e-que-tinha-uma-pen-drive-lá-metida e põe um belo reggaeton a tocar. fica na cabeça o cheiro a carris, a viagem de pé, a imagem daquela família de pais sub-30 e três miúdos sempre a gritar, a chorar e a dizer que não. fica a chegada, com calor e sol. a brasa de dia e o céu que, em Buenos Aires, estava meio encoberto. fica a imagem do céu azul com as nuvens brancas, as paragens familiares, a saída da estação, a imagem da cidade. o cheiro a mediaslunas e a garrapiñadas, os barcos de madeira encostados ao muro de cimento. o museu imponente, as casas lindas e o passeio de barco. o supermercado fluvial que anda de casa em casa - os carros não chegam às ilhas de Tigre e o supermercado, num barco, leva os frescos, as frutas, a água e o gás a cada pontão de cada casa. de Tigre fica o Puerto de Frutos, os preços mais baixos do que na capital. fica o sol e a pele meia queimada, a primeira milanesa a cavalo da Maria Teresa, a minha primeira viagem de combóio em Buenos Aires. fica o regresso já sentadas, a meio da tarde, a saída antes do Retiro, no barrio chino, a sensação boa de ter aproveitado mais um sábado por cá. estava tudo bem em Tigre, garanto. 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

as coisas.

Não gosto de chuva mas, pela primeira vez, estive em Lisboa com dias de chuva e não me custou. O conforto de casa, o calor dos amigos, o revisitar de cafés que antes eram habituais, o cheiro a castanhas assadas na rua, o rever sítios familiares, o sabor da comida caseira, as vozes e os cheiros que fazem parte da vida inteira, as casas que se sabem de olhos fechados. Tanta coisa. É verdade: estar em casa dá-nos a sensação de que a chuva, em vez de ser incómoda, nos completa.

A chuva quente e fria de Lisboa e a chuva tropical de Buenos Aires que arrefece os dias de humidade acima dos 80% que torna o ar quase irrespirável e cola as calças e as t-shirts ao corpo.


Kayden + Rain from Nicole Byon on Vimeo.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

buenos sábados #36


em janeiro os sábados passaram a amados e desejados. o prazer de fazer o pequeno-almoço nas calmas e de poder comer sem pressas acumulado com o sol que deixa passear e o calor ameno de um Verão já pachorrento que não tem pressa em fugir nem necessidade de se afirmar. limpar o quarto, arrumar as papeladas pendentes, escrever mais e pensar melhor no que se escreve. ter tempo para as coisas e ainda sobrar para aproveitar o sofá, ouvir música e ler ao mesmo tempo sem sentir que fica alguma coisa por fazer. ou que essa sensação não pese. esperar. curtir o fim de janeiro. juntar-me a este projecto bonito e arrancar com a minha cor favorita. preparar a chegada da primeira visita do ano. arrancar com este fevereiro curto.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

trinta-e-um.


Janeiro costuma ser mês de muitas festas de anos, muitos bolos e velas, muitas prendas, jantares e contas apertadas ao fim do mês. Janeiro que se preze tem festas de anos acumuladas, finanças arruinadas e um orçamento que estica. Janeiro de há três anos para cá tinha também garantida uma viagem planeada, a abrir o ano com cabeça limpa e renovada. Este ano, Janeiro teve festas de anos à distância, parabéns a você cantados no skype, calor de Verão e humidade de hemisfério sul, contas de cabeça para adequar fuso-horários, garrafas de vinho como prendas de anos e nova redacção no currículo. Ainda que tenha custado voltar, Janeiro passou a correr. Tão a correr que assusta pensar que Fevereiro, que começa já, tem ainda menos três dias para aproveitar.