Tango de rua num domingo de Agosto, em San Telmo. |
Agosto não foi mês de praia, de sol, de esplanadas e de bronze. Pela primeira vez na vida, em 28 anos, Agosto não teve aquele sabor de sal no cabelo, de ossos a gelar no mar da Costa Nova, de fins de tarde a sacudir os pés no passeio de cimento da praia do Visual. Agosto teve graça no hemisfério sul - onde Agosto é inverno. E, por isso, Agosto também foi estranho porque às vezes parecia Janeiro - ainda que sem os aniversários de Janeiro (o mês-caos-de-aniversários-e-finanças). Teve o sabor de primeiro Agosto com sol de inverno, cachecóis, luvas e gorros. Agosto de matar saudades, de entregar trabalhos, de trabalhar muito à distância e de repensar outras tantas coisas. Agosto não teve areia espalhada no chão da casa de banho depois de acumulada nos bolsos dos calções, nem biquinis passados por água e pendurados na corda de secar atrás da nossa casa. Não teve a Rita Lee num fim-de-semana de costa Alentejana nem uns caracóis e um panaché ao pôr-do-sol, nem sequer um amanhecer na praia vindos directos da Estação da Luz. Nunca Agosto me tinha parecido tão estranho, tão diferente. Eu não o conhecia com casacos de fazenda, com saudades de peixe grelhado e de Feast nem com falta de caminhadas matinais à Barra, em passo acelerado. Agosto sem farol e sem paredão, sem Fórum e sem feira dos 28, sem o chegar e sentir que tudo é tão nosso, sem ir ao mercado do peixe comprar sapateira para o jantar, sem a tripa com chocolate da praxe, vai ficar-me para sempre na memória: o meu primeiro Agosto de inverno. O meu primeiro Agosto longe de casa.
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