segunda-feira, 10 de junho de 2013

Querida língua portuguesa,

Não me surpreende o facto de não me lembrar da primeira vez que te vi. Não és como aqueles amores à primeira vista, de que nos lembramos da hora, do dia, do tempo e até daquilo que cada um levava vestido. Tu podias ir despida como quem anda sem medo de se constipar mesmo que esteja vento e frio, porque o que te interessa são os raios de sol e os sorrisos de quem mastiga bem as tuas palavras.

O nosso primeiro beijo - se lhe podemos chamar assim - deve ter sido uns quatro anos depois; imagino-o numa tarde de sol de inverno em que os dias acabam cedo mas deixam apreciar sem pressa o pôr do sol.  Mas se queres que te seja franca, também não me lembro das circunstâncias em que aconteceu. Porque, na verdade, sei que fazes parte de mim desde que nasci como se estivesses debaixo da minha pele, como todo o amor que se preze. Fazes parte de mim nos "olá" [oh palavra preferida que nunca cansa e que vem quase sempre acompanhada de um sorriso]; fazes parte de mim quando me questiono, quando penso e quando escrevo, quando trabalho e quando relaxo, quando verbalizo aquilo que penso e sempre - também - quando guardo para mim um segredo que quero manter secreto.

Meu amor: fazes parte de mim porque és o meu coração a bater mais depressa sempre que me emocionas; és a minha pele de galinha sempre que oiço alguém dizer coisas bonitas; és a minha indignação - e a minha maneira de a revelar - sempre que há algo que me causa repulsa, me enoja, me revolta ou me surpreende; és a minha curiosidade sempre que pergunto coisas aos meus Fazedores e sempre que eles se emocionam - e me inspiram - a falar de coisas que fazem contigo. És a minha surpresa sempre que há olhos curiosos a vibrar por não te conhecer; és o aconchego de um cachecol vermelho e verde, os "shhss" que confundem os estrangeiros, a leveza de uma bandeira que orgulha quem a conhece: aí e cá e onde quer que seja. És também um estado de alma nostálgico, és a poesia do Fernando e do Álvaro e do Alberto e do Ricardo; do António e do Cesário; da Florbela e da Sophia. És a minha vontade de dissecar poemas e a razão para o silêncio ser desconfortável quando há um livro escrito em português para ler.  És um refúgio na tristeza, na indecisão e no nervoso miudinho. És confidente atenta e de confiança. És um beijinho e um abraço acompanhados de um "adoro-te", és uma mensagem de texto escrita com abreviaturas e és qualquer número de muitos algarismos escrito com cuidado, respeitando as vírgulas e decomposto como ensinou a professora Maria Alice. És o respeito que temos pelo que somos, pelo que fomos e pelo que queremos ser. E o respeito que devíamos - que devemos - pelo que somos, pelo que fomos e pelo que queremos ser. Tu, meu amor, és o motivo de discussão além-oceano, és razão de discórdia por acentos - como só é quem é amado e querido por todos - e és tão particular e global que chega a ser paradoxal tudo o que és.

És Portugal e todos os portugueses e, por isso, és muito. És tudo. E se algum dia duvidares de ti, das tuas qualidades e da tua competitividade, sê tu. Se deres o melhor de ti já és a melhor de todas.

Como escreveu o MEC,  Amo-te, aconteça o que acontecer. Amo-te por causa de ti. Não é apesar de ti. É por causa de ti. Não há outra razão. Nem podia haver uma razão mais simples. Por muito que te custe ouvir (apesar de eu saber que não só não te custa nada como gostas de ouvir), digo-te: é tão grande o meu amor por ti que até consigo amar-te sem dar por isso. 


És a minha - a nossa - maneira de dizer que sim e que não. E és o meio e a mensagem sempre que penso e admito que tenho saudades de te falar todos os dias.

3 comentários:

  1. mesmo muito, sem dúvida :)

    Mariana

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  2. Que texto tão bonito :)
    Às vezes é preciso um certo distanciamento para apreciar a beleza e dar o devido valor ao que esteve sempre diante dos nossos olhos.
    Conheci o teu blog hoje e estou a ler tudo desde o início e a adorar !
    Um bom ano :)

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