Não posso dizer com certeza qual é a primeira recordação que tenho dela. Mas são tantas que descobrir qual será a primeira se torna irrelevante. O sabor do bife passado, os anéis de prata intercalados com aqueles de pedras às cores que eu comprei no Brasil da última vez que lá fui, os passeios pelo Alto da Serra à procura de musgo para o presépio, os sacos espalhados pela cozinha, pelo telheiro, por todo o lado, com ovos e legumes e carne do "Marta", uma especialidade. As canções, uma perfeita para cada tema, os óculos tirados do nariz uma das hastes posta no canto da boca, como um motor que ajuda a pensar mais rápido e melhor. Um nunca queixar-se de nada: nem do cansaço, nem das costas, só das saudades. O melão sempre oferecido à mamã, que nunca gostou de melão. A revista inglesa encomendada que chegava com os exercícios para fazer, os ramos do Domingo de ramos, os passeios de bicicleta pela Costa Nova, o pão fresco de manhã, a sopa como não há igual, os doces que toda a gente gaba, os bolos de anos melhor enfeitados que nas revistas, as prendas personalizadas, as dedicatórias inesquecíveis. A toalha de baptizado bordada, os casaquinhos de bebé feitos em tempo record, as saias justas abaixo do joelho, os tops e os lenços de flores, as expressões, "Ai que me matei!" A t-shirt da Zara, cinzenta com letras pretas a dizer "hipster".
A Titezinha anda de mala aviada para todo o lado, como se o cansaço entre transportes fosse só o meio para chegar ao fim e a dureza das viagens nem se lhe notasse nos pés, tantas vezes de saltos altos, tantas vezes pousados ao lado dos da avó Petite no carro onde as duas sempre andavam juntas. Palavra de honra? A Titezinha é uma mulher muito interessante, compra legumes e frutas mini, enche sacos com produtos de "drogaria" como se a loja fosse no louceiro da sala da casa do avô Adelino e esconde segredos na garagem onde cabe tudo e mais alguma coisa, tem um tablet, facebook e até um email cujo nome é avotitezinha. A Titezinha no aeroporto à minha chegada não surpreende, porque é presença com que se conta: nunca falha. Há pessoas que não cabem nas palavras com que tentamos, sem sucesso, defini-las. A Titezinha não cabe em todas as palavras do mundo. Não sei o que escrever mais. É uma hipster na vontade. É TT, como as iniciais com que assina as dedicatórias. TT de Titezinha e de todo-o-terreno. Parabéns Titezinha. [eu juro que já tentei ligar várias vezes e compreendo a agenda preenchida]
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