Buenos Aires está em altas. De calor - estão uns 40 graus à sombra, 80% de humidade e a pele cola a tudo quanto é roupa - e de mercado negro: o dólar passou na semana passada a barreira dos 12 pesos. E, na Argentina, estas coisas do dinheiro são mais complicadas do que noutro país qualquer (excepção feita à Venezuela, que também tem "cepo cambiário", mas isto são outros carnavais, sim?).
É preciso saber estas coisas. Explico: quando o meu avião aterrou em Buenos Aires ninguém me tinha falado do assunto. É normal que se paguem taxas por levantar dinheiro no multibanco mas, com a questão da universidade resolvida por transferência bancária, não me restava outra senão ir levantando maiores quantidades de dinheiro para evitar as comissões o mais possível. Quando eu cheguei a Buenos Aires, o euro oficial rondava os 6 pesos. Ou seja, cada seis pesos que eu levantava no multibanco correspondiam a um euro a menos na minha conta portuguesa mais, obviamente, as comissões. Assim andei nos primeiros três meses: a levantar 1000 pesos de cada vez. Só que, volta e meia, ouvia os zunzuns de uma colega francesa, sempre a espreitar as cotações do "blue".
O blue é o mercado paralelo. O negro, chamamos nós. Na altura, trocava-se cada euro a 9 ou 10 pesos o que, convenhamos, é uma grande diferença. Ou seja: um café podia custar-me 1 euros ou 1,5, percebem? E isso sempre em proporção. Percebi que tinha que arranjar maneira de trazer euros para a Argentina. E pronto. As primeiras visitas trouxeram um envelope com notas. E eu pus-me a caminho e fui trocá-las.
O mercado blue é uma coisa bizarra. E, confesso, na calle Florida, ainda mais. A cada quarteirão há uma mão cheia de gente a dizer com voz de bagaço "cambio", "euro", "dólar", "real". Isto num quarteirão pode não ser nada, mas se falarmos de várias centenas de metros - uns seis ou sete quarteirões seguidos, o caso já muda de figura. Entretanto, alterno o cambio entre um sítio mais perto de casa e pedidos aos rapazes cá de casa.
Na sexta-feira, em reacção ao desgoverno do mercado negro, o governo argentino anunciou que vai acabar com o cepo cambiário a partir desta segunda feira. Os jornais falam de uma medida inesperada, os economistas acreditam que não se vai concretizar e as pessoas, tão habituadas a aumentos de preços semanais, só querem que um quilo do que quer que seja não pule como se não houvesse amanhã. Entretanto, o ministro da economia já veio mais-ou-menos-negar uma parte do anúncio que o chefe de gabinete da presidente Kirchner. Ela, e bem, está em Cuba. Foi mais cedo do que era preciso para "estudar a realidade local". Ora toma.
É por estas e por outras que é tão bom seguir-te: fico a saber coisas que nem sequer fazia ideia. Obrigada também por isso :)
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