quinta-feira, 19 de setembro de 2013

nós

Quando um português se mete num avião para ir viver para qualquer parte do mundo, há aquela sensação de estar a deixar a casa que não vejo em nenhuma outra pessoa. Chorar é normal na despedida ao Tejo e à ponte. O Chiado claro e luminoso nunca sai da memória, nem os cafés nem os passeios pela Avenida da Liberdade. Quando um português chega ao destino, esse destino é sempre uma passagem. Mais do que o entusiasmo do ir, há sempre o desejo de voltar. Marcam-se viagens para as datas importantes e os olhos, por mais que brilhem onde quer que seja, nunca brilham tanto como quando o Skype chama e diz casa. Um português emociona-se quando ouve fado noutro país e, na humildade óbvia - que de tanta faz corar - canta mesmo rouco os loucos de Lisboa e repete, nem que seja na cabeça, que o português é a língua mais bonita do mundo. E que seria sempre, mesmo que só tivesse a palavra saudade. 
Quando está triste, o português pega no lenço de Viana cheio de flores e enrola-o ao pescoço: agradece quando lhe elogiam as cores e diz, com todo o orgulho do mundo, "é um lenço de Portugal". Porque não há ninguém mais vaidoso do que um português além-fronteiras; não há mais familiar do que ouvir o sotaque fechado de quem, mesmo que tenha acabado de chegar, sente que está longe há meses. Porque em cada português fora há um embaixador: que vibra com um bacalhau à braz servido numa mesa qualquer, que anseia uma Sagres mini mesmo que não goste de cerveja, que deixa um café Delta arrefecer só para lhe sentir bem o cheiro, e que chora - repito - chora, pela alegria de ouvir os poemas cantados como se se lembrasse de uma canção de embalar cantada à beira-mar, por uma voz familiar, daquelas que nunca se esquecem. 

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