Quando eu acordo, é raro o dia em que não tenho sempre dezenas de notificações pendentes no telemóvel. O fuso-horário de quatro horas de diferença não ajuda a manter as conversas em dia. Só que eu corro para as apanhar, leio-as em silêncio e comento-as depois (estratégia boa que deixa o telemóvel no sítio onde queremos e impede que estejamos sempre a tentar domar as notificações.) Faz este Setembro dez anos que elas são minhas amigas e que eu sou amiga delas. Já falámos tantas vezes nisto, de as amigas da faculdade serem as que ficam para sempre, que tenho pena de não estar em Lisboa para comemorar à altura do acontecimento. Quando nós nos conhecemos eu tinha um Nokia clássico, ainda a duas cores. Tínhamos todas, acho. Tínhamos isso e muitas dúvidas do que queríamos ser. A Catarina já devorava apontamentos em vésperas de frequências, os sublinhados a cores - primeiro uma, depois outra, depois uma terceira - geravam em mim a sensação de que tinha sempre o estudo atrasado. A Raquel viajava para a Golegã muitos fins-de-semana por semestre porque era chefe (e, na verdade, continua a ser) e sempre foi óptima a organizar horários e calendários porque sempre trabalhou. A Mimi já dava gargalhadas alto e bom som, como se essa fosse a maior força dela. A Débora já sofria por antecipação, já não tinha vergonha de cuspir tremoços e invejava - que eu sei - as nossas viagens à terrinha porque ela era a única que já vivia no sítio onde estudava. A Sara já era aquela ternura em pessoa que toda a gente conhece. A Açoriana já era magra e alta e gira e com força e sempre a falar e a cantar e a dançar e até já tocava com a ponta da língua no nariz. A Su já escrevia poesia e nós já víamos nela a tragédia-lírico-poética do grupo, em todos os sentidos e com as melhores histórias que se podem viver e ouvir.
Acho que fomos estreitando relações, diminuindo as distâncias. Hoje já sei que há assuntos que, falados com a Catarina, dão discussão certa. E sei que, em dias mais sensíveis, a Raquel - que raramente derrama uma lágrima - é capaz de estar a beber vinho enquanto fala comigo no skype e quase a soluçar de saudades. E sei que a Débora, por mais que tente, nunca vai deixar de se surpreender com as notificações nem deixar de usar o verbo composto "cagar a rir" mesmo que eu lhe diga mil vezes que não é verbo de menina.
E sei que tal como vocês me enchem o telemóvel de notificações e as chamadas conjuntas de skype de frases ditas ao mesmo tempo, também enchem a minha vida todos os dias. Se os estudos estão certos, esta amizade é para a vida.
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