segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

sete meses de Buenos Aires

Quando as coisas nos são estranhas e a rotina ainda nos é desconhecida, sentimo-nos mal. O desconhecido assusta, sentimo-nos mais pequenos, menos capazes. Ficamos nervosos ao primeiro não. Quando isso acontece num país que não é o nosso e nem sequer nos conseguimos expressar como gostávamos, a coisa complica. 
Viver fora, viver a milhares de quilómetros de casa, é sempre assim. Primeiro, é o esforço de nos adaptarmos ao ritmo de uma cidade onde nunca vivemos. Depois de já não precisarmos do mapa para irmos aos sítios mais comuns, é hora de nos aproximarmos das pessoas. Fazer amigos, combinar jantares, ficar contente quando somos convidados para os programas que combinam com os amigos deles, anteriores a nós. Há dias em que o nosso corpo cria resistências, em que o sotaque não é daqui nem de outro sítio qualquer e em que até as palavras mais fáceis se tornam impossíveis de dizer. É nesses dias que temos vontade que o regresso chegue depressa e corremos para casa - porque temos a sorte de viver com gente que afinal nos percebe melhor do que ninguém, por estes dias. Há outros dias em que as coisas se descomplicam: em que inventamos palavras, repetimos expressões porteñas como se já fossem as nossas e sorrimos sem querer ao porteiro que corre a abrir-nos a porta só para não nos obrigar a tirar à pressa a chave da carteira. É nestes dias que nos sentimos bem. Buenos Aires, ao fim de sete meses, já é quase sempre assim. O prédio para cuja porta o porteiro corre para nos deixar entrar e nos poupar a corrida à chave. A casa na qual somos bem-vindos. Como se fosse a nossa. 









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