quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

a confidente

quando eu era miúda era muito calada. falava pouco, observava muito. era daquelas miúdas que se entretinham facilmente: não por me distrair com coisas pequenas mas porque era muito sossegada. já na escola primária, a conversa era diferente. falava mais - havia dias em que a professora ameaçava separar-me da Mafalda (minha melhor amiga na altura): as duas juntas éramos uma das duplas mais conversadoras da turma. mas eu lembro-me que, de quase todas as vezes que éramos chamadas à atenção pela professora Maria Alice, era ela que falava. eu ouvia sempre. acho que sou boa confidente: sei o que são segredos e gosto de guardá-los para mim, como tesouros. os segredos que nos contam são coisas importantes: reservam para si duas coisas preciosas: primeiro, são de outras pessoas; segundo, são uma prova da confiança delas em nós. quanto aos meus, só espero que, quando os conto, mos guardem tão bem como eu gosto de guardar os dos outros. 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

há dias que

dias em que percebemos que, por mais que ainda estejamos zen depois das férias, o trabalho - e as frentes em que surge - é tanto e vem tão de repente que o estômago se enrola e o coração bate mais rápido e os olhos ardem e o relógio não pára e até parece andar mais depressa. mesmo que teimemos em não o pôr no pulso de manhã. é que os dias - por mais que eu queira - só têm 24 horas. nem mais um minuto. 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

é preciso dois para dançar o tango.

é uma generalidade mais é verdade: quando um não quer, dois não dançam. e se as capas de revista que mais vendem são as que dão como terminados os amores deste mundo, a verdade é que, a mim, sempre me agradaram mais os finais felizes. tanto nas revistas como nas comédias românticas.

eu não perco uma comédia romântica. gosto de histórias que acabam bem, de amores improváveis que vencem os obstáculos e de vidas que davam filmes.

como a deles, que se conheceram por acaso, como a maior parte das pessoas. não foram a nenhum jantar de anos de um amigo comum e descobriram que tinham coisas que os ligavam. não se cruzaram numa festa de Natal nem no corredor da empresa onde ambos trabalhavam. nunca tinham estado no mesmo sítio, na mesma rua, nem sequer no mesmo país. ela apanhou um avião, andou de carro, de autocarro e de comboio. ele andava a passear de mota precisamente no dia em que ela também passou naquela estrada de terra batida com a amiga. naquele dia em que ela apanhou aquela chuvada e que coincidiu com o passeio dele com aqueles amigos com quem decidiu passar férias naquele mês daquele ano. eles coincidiram no sítio mais improvável do mundo, ambos de passagem, naquele dia que podia ser outro qualquer dos 365 dias. naquele mês que podia ser outro dos doze. e naquela hora que podia ser outra qualquer das vinte e quatro.


dizia eu que eles se conheceram por um acaso: imaginem um sítio afastado da estrada de alcatrão, no meio do nada, entre montanhas e vales e neve do inverno que nunca acaba. foi lá mesmo, no sítio mais improvável do mundo. ele olhou para ela, ela respondeu-lhe com uma pergunta. trocaram olhares, ele disse-lhe que sim. ele ofereceu boleia, ela rejeitou. ele foi embora e ela remoeu. não aceitou a boleia. arrependida, ficou ainda espreitou na estrada a ver se o via. nada. escreveu com letras pequeninas, num papel, o nome e o número de telefone. e guardou o recado no bolso, não fosse ele voltar para trás, como quem tenta fintar um não pouco convincente. enquanto ela voltava de carro, ele passou de mota, à procura dela. ela sentiu o coração bater mais depressa e o estômago a remoer aquilo que ela não conseguiu verbalizar porque ele passou rápido de mais sem lhe dar tempo de pensar e agir. pensou que nunca mais o ia ver. só que, quando ela chegou ao ponto em que o passeio tinha começado, ele estava lá. disse-lhe olá, ofereceu-lhe um chá e não a largou mais.

esta história seria boa de escrever aqui porque deve ser boa de ler em versão dupla. porque é preciso dois para contarem a história de um coração só, como dizem a Isabel e a Maria João. e é boa surpresa para amores de todo o tipo, desde que haja dois para contar a história. para não deixar nenhum segredo por guardar.

sábado, 26 de janeiro de 2013

a lila.


Tenho saudades deste blogue e do dia-a-dia da miúda da fotografia. A Lila. Os pais entretanto criaram outro blogue onde divulgam trabalho de fotografia que vão intercalando com fotografias dos filhos. Mas...a Lila será sempre a Lila. Ma-ra-vi-lho-sa. 

La maleta roja.

Apontamento número 2. Stress no aeroporto
Não sei por onde começar. A verdade é que depois de confirmarmos as desconfianças, todas elas são muito mais válidas. E eu juro que, logo com a confusão de Lisboa - ainda era de madrugada  - fiquei com a sensação de que a mala não chegaria facilmente. Ou, pelo menos, tão facilmente quanto eu. A confusão de Miami - nunca tinha viajado para os Estados Unidos e confirmam-se as expectativas de que eles querem saber da nossa vida ao mínimo pormenor - levanto a mala, não levanto a mala, "toda a gente tem que levantar a mala", "despache-se e leve este cartão néon básico à mostra para a deixarem passar mais rapidamente na fronteira". A verdade é que tinha feito o check-in directo para Medellín, o que não obrigava a que apanhasse a mala vermelha senão à chegada à Colômbia. A escala em Miami foi a correr - o aeroporto é enorme e obriga a andar muito além das portas de embarque e desembarque, sempre de saco e carteira atrás - e a entrada no avião foi feita praticamente directamente, sem muito tempo para sentar e descansar. E o calor de Medellín não me convenceu. É que, depois de 17 horas de viagem entre três aviões e aeroportos de dois continentes, qual não é o meu espanto quando chego à Colômbia, lampeira à espera da mala e contente por o aeroporto de Medellín ser o primeiro do dia a ter wireless (aproveitei obviamente para fazer loggin no facebook), a passadeira das malas gira, gira (há um senhor a retirar as malas repetentes em que ninguém pega) e, de repente, a passadeira pára e a mala não aparece. Como não está? Como assim???
Próximo passo: fazer queixa do sucedido. A miúda que me atende tem uma letra péssima, percebe bem mas escreve mal o que lhe digo e parece não saber bem o que fazer, tal é a quantidade de perguntas que faz à colega que está ao lado. Descrevo a mala - vermelha, rígida, com código incorporado - fotografo a etiqueta que a identifica no meu bilhete e deixo-o anexo à reclamação e, passada quase uma hora, sigo para a saída onde estava o Sebastian - um miúdo amoroso e que fazia parte da equipa que acompanhou toda a imprensa estrangeira durante os dias da feira - e uma jornalista americana de Atlanta com quem partilhei carro para ir para o hotel. O Sebastián pede-me o papel da reclamação para tirar cópia e começar a tratar ele de encontrar a mala, juntamente com o aeroporto. Melhor assim.

Sei que entretanto quase me tornei insuportável…mas a ideia de alguém ter ficado com as minhas coisas ou…pior, de a mala estar abandonada num aeroporto qualquer, deram cabo de mim. Na verdade, a mala não apareceu nos primeiros quatro dias e isso estava a desesperar-me. Perguntava consecutivamente e sem olhar a alvos pela minha mala. "Já falaste com a aerolínea?", "Hay novidades de la maleta?", "Te llamarón como…hoy?". Acho que alguns deles já não me podiam ouvir, mas andar com a mesma roupa há três dias - lavar cuecas e t-shirt à noite para voltar a vestir na manhã seguinte - não pode dar saúde a ninguém, não é? O que acontece é que, até quarta feira, ninguém sabia nada da minha mala. E eu vi-me obrigada a intervir e a ligar para a companhia. A miúda que me atendeu "con mucho gusto" disse-me que não sabiam da mala, que a base de dados da AA não tinha notícia de nenhuma mala com o código da minha e que, mesmo que tivesse perdido as etiquetas, a mala ainda não tinha sido encontrada em Miami. Liguei para Lisboa mas a Ground Force não tem acesso às bases de dados de outras companhias senão da TAP. E em Madrid também não havia nota de que a mala tivesse ficado em Barajas. Insisti, que não podia ser, que não queria estar mais sem a minha mala, que a mala não podia ter simplesmente desaparecido sem deixar rasto, que era inadmissível deixarem uma jornalista a trabalhar na Colômbia durante uma semana sem uma satisfação e sem a mínima justificação para o problema. Insistência, chateação ou sorte, a verdade é que a miúda da American Airlines me ligou meia hora depois a dizer que tinham encontrado uma mala sem identificação, no aeroporto de Barajas, e que podia ser a minha porque tinha realmente as características que eu tinha descrito. Ficou combinado que a mala seria enviada para Medellín se chegasse antes da noite de quinta-feira, já que a partida para Portugal era sexta de manhã e não valia a pena mandar vir a mala de Madrid se ela não chegasse antes da minha partida. O alívio era evidente nos olhos dos pequenos assistentes da imprensa, nos meus - evidentemente - e até nos dos outros jornalistas. Um deles, o Héctor, do México, cada vez que me via com roupa lavada dizia que não me conhecia porque tinha mudado de roupa. À hora da partida de Medellín, reconheci a minha mala, identifiquei-a e tive vontade de a abraçar. Seguiu para o check-in - e eu a pedir às meninas do balcão para não a perderem, por favor, que já nem me lembrava bem do que tinha lá dentro. Na verdade, toda a gente da AA já sabia da história e muitas delas até me tratavam pelo nome sem sequer olharem para o bilhete. Sou tão famosa na Colômbia (!!). Obviamente não podia ficar por aqui. O avião cheio, eu a tentar passar com a carteira, a mala do computador-com-mais-mil-coisas e os sacos com chocolates colombianos e café colombiano e outras coisas colombianas e não é que, para eu espanto, pedem a minha comparência juntamente com o meu passaporte na entrada do avião. Ora eu! Mas está tudo bem com as pessoas? A sério? O que foi agoraaaa??? Queriam abrir-me a mala. Eu só dizia que a mala tinha estado desaparecida e que só a tinha ali agora porque na realidade ela tinha chegado na noite anterior à Colômbia. Um rapaz abre-me a mala, começa a abrir-me os champôs, a desembrulhar-me as saias e as camisas, o blazer e os calções. E ele a mexer em tudo, nos sapatos e nas meias, nas cuecas e na maquilhagem, nas garrafas de vinho que levava para entregar a um português na Colômbia e que nem chegaram a ver a luz. Inspecção feita, correr para o avião, as miúdas da entrada a dizerem o meu nome e a desejarem-me alte boa viagem "con muchísimo gusto". Miami foi outra conversa. Frio que dói no aeroporto (os ares condicionados daqui têm muito que se lhe diga) e o contacto de uma colombiana emigrada no Canadá, que me convidou para ficar em casa dela "con mucho gusto" logo que me apeteça viajar para Toronto. Evidentemente, a internet é para esquecer durante todo o processo de fronteiras, com mil carimbos e mil perguntas, "porque vem?", "quanto tempo esteve?", "para onde trabalha?", "traz droga, armas e comida consigo?", and so on. Con mucho gusto. 

hola Colômbia!


Apontamento número 1. Madrid-Miami
Entrar no aeroporto para uma viagem de quase 24 horas com duas escalas incluídas e ser surpreendida por uma notícia que conduz a um pico de stress não é simpático. Chegar à Portela às 6h15 da manhã, ir direitinha ao check-in e ser informada de que, para chegar a Medellín, na Colômbia, é preciso ter um visto para fazer escala em Miami, nos EUA, não é propriamente a melhor notícia do mundo. Com meia hora para tratar dos papéis e uma mala vermelha do tamanho de uma viagem de 15 dias - não por excesso de peso mas pela dimensão do bicho - é correr entre os perdidos no aeroporto, que páram e ficam a pensar em frente aos ecrãs gigantes e dificultam a vida a desportistas de pistas de aterragem - como é o meu caso. As duas agências de viagens nas "Chegadas" estavam fechadas (a sério que é domingo? a sério?) Ao telefone, um rapaz simpático a quem eu aparentemente terei interrompido o sono-de-manhã-de-domingo procura desesperadamente o código da reserva nas bases de dados. Quinze minutos depois chegamos à conclusão de que seria impossível encontrar a dita uma vez que a reserva não foi feita com a agência de viagens em questão. Recomenda-me o pedido ao balcão da Iberia, companhia que vendeu os meus bilhetes de avião. A senhora parece-me meia desesperada quando lhe peço ajuda e manda-me, a correr, para o balcão da Abreu do lado das partidas. Chego, a transpirar, ainda com o saco verde a tiracolo e a mala vermelha à trela, largo a mala grande à porta da agência e peço-lhe rapidez no processo. Vinte e cinco euros, uma autorização redigida em português com data de nascimento, morada e números de contacto. "Sente-se menina", diz o madrugador da agência que, aposto, preferia estar sozinho a dividir atenções entre o som do ar condicionado e a luz artificial agressiva do escritório. Papel emitido, sete da matina, corro para o check-in. Tudo impecável, avanço para a porta de embarque com 45 minutos de margem de manobra, que ainda me dá tempo para comprar o Expresso - e ler, depois, no primeiro voo, a reportagem do Hugo Gonçalves sobre os portugueses que vivem no Morro do Vidigal, no Rio de Janeiro. O tempo ainda sobra para comprar um sumo natural de morango - o primeiro alimento ingerido depois do iogurte das seis da manhã - e para sossegar por momentos, em frente à porta de embarque. À entrada do avião dou de caras com aquele que será provavelmente o comandante mais simpático e divertido de sempre. A começar a descer para Barajas, soletra descontraidamente o "dia ma-ra-vi-lho-so", "el dia ma-ra-vi-llo-so", "the won-der-full day" na capital espanhola. E ainda brinca com a aterragem. "Trrrriiiiiiipulaciónnnnnnn, preparar para la aterrizaje." Espanha rulz. 
O aeroporto de Madrid não tem wi-fi. E isso é a parte mais triste do momento em que compro a Monocle, a Vanity Fair, uma salada de frutas com uma maçã deliciosa e uma sandes de presunto e queijo. Miami é a próxima paragem. Só por algumas horas. (o que era catita era conseguir investir num par de cuecas e soutien Victoria's Secret. Isso sim, era falar.)


domingo, 20 de janeiro de 2013

breves apresentações

sou jornalista aprendiz, 28 anos acabados de fazer, solteira e boa rapariga. gosto de olhar para as coisas e de saber-lhes o porquê. e depois de as escrever. gosto de comer bem, de conversar, de fazer perguntas, de ler revistas e jornais - mais do que de ler livros - e de viajar. gosto de dias de sol na primavera. gosto muito de viajar. este blogue vem cumprir essa tarefa de compilar estas dimensões da minha vida.
por isso... bem-vindos! há outros - alguns outros - que vão continuar bem no sítio deles, actualizados sempre que necessário e possível. e depois há este. o meu superlativo absoluto sintético. o melhor.