quarta-feira, 23 de abril de 2014

Atlântico - Pacífico em dez dias #4

Da cidade mais alta do mundo à capital mais atordoante


Chegámos. Descemos da carrinha em plena rotunda latino-americana. Há carros a apitar, autocarros atarefados, o sol quase a pôr-se naquele fim de tarde e nós a descarregar a caixa aberta. Ajudamo-nos umas às outras a descer, as mochilas carregadas, as mantas, os casacos, as mochilas mais leves, o saco de plástico preto com a garrafa de tequilla e ainda outra de vinho tinto. O monte de mochilas no chão, as mãos à cabeça, depois para a frente a tentar mandar parar dois táxis que nós levassem e às tralhas. Sem marcação de dormida mas com o nome de um hostel na cabeça, subimos a cidade em quinze minutos e chegámos a um hostel com pátio ao ar livre. A casa, pintada de amarelo, fica bem ao lado da praça central que nem tivemos tempo de conhecer. Do que vimos nos guias, Potosí merece visita às minas e às dezenas de igrejas que acumula em ruas e vielas inclinadas. O autocarro para La Paz sai duas horas e meia depois horas e somos cinco para tomar banho, vestir e actualizar fotografias e mensagens no facebook, no instagram e no whatsaap. Por isso, à nossa chegada, o taxi ficou marcado para daí a duas horas, sem nunca prevermos a experiência que seria chegar aquele terminal gigante e circular.

Em todos países da América latina onde já fui há uma grande estratégia de vendas cara a cara. Isto é, mal chegamos a um aeroporto, terminal de autocarros ou de comboios, logo vêm entre uma a duas males cheias de taxistas e todo o tipo de comerciais de outros transportes para nos venderem a preços normalmente inflacionados os trajectos que nós precisamos de fazer. Primeiro conselho: negociar. É possível regatear preços, seja na Argentina como na Bolívia ou no Perú. O terminal redondo de Potosí, que fica na parte baixa da cidade, está rodeado de roulotes e povoado de vendedores ambulantes. À chegada do taxi, e ainda sem pagarmos o serviço, somos quase abalroadas por vencedores. De Potosí, segundo eles, há viagens para todas as partes do país (é incrível a variedade de destinos e de serviços que os autocarros sul-americanos são capazes de prometer). 
Entramos de fugida, já as malas pesas mais uns quilos (não que tenhamos comprado coisas mas porque as costas já acusam cansaço). 

Não me lembro bem da cor do terminal porque tenho a sensação que as luzes eram tão brancas que nem dava para ver. Talvez fosse de cimento, com o tecto arredondado topo cúpula. No centro, com passagem por uma ponte, um restaurante com mesas cinzentas e balcão cor de vinho que fazia lembrar os mais recônditos restaurantes chineses de Lisboa. Comi uma canja, para aquecer e aguentar a viagem de uma noite inteirinha (umas dez horas) até La Paz, a capital. No balcão de entrega dos bilhetes, um homem careca pesa as malas vagarosamente, como de tivesse todo o tempo do mundo enquanto um cão branco a mudar de pelo dorme e impede a entrada no espaço que vai da parede ao balcão. Não é o junco a viver no terminal. Antes de entrarmos no autocarro compramos dois pacotes de bolachas e três chocolates numa senhora que montou banca mesmo na plataforma onde os autocarros esperam pelos passageiros (ou o contrário). Sentado-nos mas a confusão do autocarro cheio não nos deixa dormir. Tinham-nos alertado para o frio dos autocarros durante a noite mas disso não temos de que nos queixar. Antes do inverso: passámos muito calor a viajar durante a noite na Bolívia e no Perú. 


Quando chegamos a La Paz ainda é cedo mas já é de manhã. As minhas dores de cabeça por causa da altitude começam a aumentar, sente-se um peso na testa e uma dor fina mas chata ao pé dos olhos. A cena no terminal repete-se: dezenas de taxistas gritam e oferecem serviços até ao centro. À primeira vista La Paz tem o aspecto de uma favela gigante: as casa por pintar ficam todas da cor de tijolo muitas vezes sem reboco e as únicas cores que têm normalmente são bandeirantes de papel brilhante e prateado que os moradores penduram junto ao telhado. Chegadas ao hostel que tínhamos marcado ficamos a saber que afinal não havia lugar e temos que procurar outro. Mais uma vez, os taxistas oferecem-se para procurar ajuda e o nosso tem até um panfleto de hotel já meio amachucado. Encontramos um hostel numa a zona central sem grande dificuldade. Ficamos mesmo na entrada do mercado das bruxas, o melhor sítio para comprar tapeçaria e artesanato boliviano no centro da cidade. Pousamos as malas, actualizamos conversa, avisamos que chegámos e saímos para tomar pequeno almoço reforçado já com a certeza de que a seguir não podemos escapar a um chá de coca e a uma ida à farmácia para comprar os tão úteis comprimidos contra a altitude. A ver vamos. 

1 comentário:

  1. Olá Mariana...Gosto de ler-te e saber das tuas infinitas histórias!:D
    Até breve... pois vamos regressar a Portugal quase quase na mesma altura...;)

    Beijos Grandes com Saudades!

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