segunda-feira, 16 de junho de 2014

a bússola, o norte e a casa.

E agora uma pergunta para os da casa: para onde é que é o Norte?

Interrompi. O António estava lá em casa há dois dias quando escrevi este texto (e já nem eu lá estou). Conhecia o Chico que vivia connosco até ao mês passado - altura em que se mudou para o Rio de Janeiro, onde o António também viveu um ano e meio. Os amigos desencontrados despediram-se no Rio em vésperas da partida do António para se reencontrarem nas conversas sobre o Chico, aqui em casa.

O Chico já não vivia lá mas continuava a estar presente em muitas conversas. E naquele dia, quando o António me mostrou os Tumblrs que tem e alimenta com ilustrações e fotografias, falámos dele. Nenhum de nós conhecia o António mas é como se, através dele, o Chico estivesse cá por momentos, outra vez.

Mas voltemos à pergunta. Apontei com a cabeça para trás de mim. O norte está atrás de mim, nas traseiras do prédio, do lado dos quartos em nossa casa. Nesta altura, ele ainda estava a tentar equilibrar a bússola.

Andas de bússola? - perguntei.
Preciso, para saber onde é o Norte. - respondeu.

Ilustração: Ó Patagónia


O António foi a visita mais recente a chegar lá a casa, recém-saído do Rio (entretanto passou por Iguaçu). Vai andar a viajar durante o tempo que o dinheiro que juntou sobreviver. Antes, chegou o Eduardo, a viajar há nove meses pela América latina. Trouxe histórias de todos os lados, ainda falava com o entusiasmo de quem revive todos os dias a viagem de canoa pela Amazónia, brilhavam-lhe os olhos, só queria que vissem. Andava de mochila às costas de passeio em passeio, já um bocadinho cansado de autocarros e de viagens com duração de mais de um dígito de horas, já com necessidade de comprar um par de ténis novo que o outro, abandonou-o no poiso anterior.

Também eu abandonei um par de ténis algures no hostel em Cuzco, uma das últimas paragens antes de chegarmos a Lima, quase quase no fim da viagem. Também eu andei de mochila às costas, a carregar o peso que me propus meter às costas com a sensação de liberdade que vem agarrada a bilhetes escritos à mão com lugares marcados entre bolivianos sentados no chão e boleias apanhadas no meio da estrada.

Agora, de volta a casa, quero voltar a encher os quartos com fotografias de viagens nas paredes, que farão companhia às frases bonitas escritas com letras modernas mas que nunca se compararão àquilo que é andarmos de mochila às costas pelo mundo, com uma bússola que vive do batimento cardíaco. 

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