O aviso é dado uns 20 minutos antes da aterragem. Antes, já os olhos do João Pedro, na coxia da nossa fila, saltam por cima do meu ombro e tentam espreitar para ver aquilo que nós não conseguíamos descrever: os Andes podem ser, às vezes, sinónimo de turbulência mas são, garantidamente, símbolo de boca aberta de admiração. É que sobrevoar a cordilheira da América Latina tem muito mais de bonito do que de assustador. Até para estômagos sensíveis como o do João Pedro, que só sossegam com um bom calmante.
A primeira sensação é de pequenez. Sobrevoa-se a montanha gigante, tenta encontrar-se uma vida em miniatura no meio do relevo da cordilheira. A neve nos cumes mais altos contrasta com o tom castanho da erva seca, impotente face à enorme amplitude térmica local. Procurar a cidade de Santiago é, por isso, uma tarefa inglória: é difícil encontrar a capital - ainda que a cidade seja gigante - no meio da montanha. Na verdade - percebemos depois - o aeroporto fica longe da cidade (são uns 25-30 minutos, mais ou menos) e é impossível ver a cidade plantada no meio de um vale. Mesmo que estejamos a várias centenas de metros de altitude.
Chegar a Santiago quase 24 horas depois de ter saído de Lisboa tem um sabor a alívio: as pernas incharam por causa do calor e dos três voos e escalas consecutivos. E do aeroporto de Santiago não se vê nada da cidade. Nas chegadas, dezenas de taxistas tentam impressionar os turistas meio perdidos, entre as ofertas dos balcões e os cartazes A4 na mão dos motoristas. Só que - percebemos depois - de pouco valem os piscares de olhos: na verdade, o preço até ao centro da cidade é tabelado (16 mil pesos chilenos, qualquer coisa como 27 euros). E é para lá que nós vamos.
A morada do hostel que escolhemos, um mês antes da viagem - e, para já, um dos dois que decidimos marcar em 11 dias de viagem - é em pleno centro histórico de Santiago. Na verdade, não pensámos muito no assunto e este pareceu-nos bem: boa vista, boa localização, bom preço. Tudo de bom, portanto. Só que, esta nossa impressão foi desmentida pelo taxista que nos levou à Plaza de Armas, não sabemos se por ser mesmo verdade que a praça é perigosa, se por ganhar comissão de nos levar para outro lado qualquer.
Apesar dos desmentidos, lá ficámos no sítio que estava planeado. A chegada mais cedo do que o previsto ajudou a conhecer a cidade logo no mesmo dia. Banho tomado, roupa lavada no corpo - e, muitoooo importante, sandálias nos pés - lá fomos dar uma volta pelo centro de Santiago e aproveitar um dos dois dias planeados na capital chilena. Não sem antes termos dado com um canivete suíço e um monte de moedas escondidos debaixo do edredon da cama do Pedro.
Andámos às voltas pelo centro da cidade, comemos no Dominó - um sítio "muy rico" segundo uma miúda que nos perguntou se estávamos a falar português (tinha estado no Brasil uns tempos e reconheceu algumas palavras). Eles escolheram umas sandes; eu, uma salada de frango, alface, queijo fresco e palmito. Nota para os sumos de fruta: deliciosos.
Depois do almoço, hora de procurar o bairro da Bellavista que, nos guias, é um dos sítios recomendados pelas casas coloridas. Não preciso dizer que tinha altas expectativas para as fotografias em cenário colorido que não foram confirmadas à primeira vista. O bairro não é nada de especial - a Casa-número-um do Pablo Neruda (há três casas do escritor no Chile abertas a visitas) já não tinha vagas para visitas nesse dia e o teleférico e o funicular estão fechados há meses e anos - dizem os taxistas perto da praça da Bellavista. À falta de alternativa - e perante um cenário de um sempre-a-subir-durante-duas-horas-e-um-calor-tropical - decidimos subir de táxi (custa 1000 pesos por pessoa).
Subir ao Parque e à Señora de La Concepción é ter o privilégio de uma vista que não se consegue explicar por palavras. Santiago ganha uma dimensão que ultrapassa muito o imaginável e até as fotografias panorâmicas com que andámos a sonhar durante meses: o pôr-do-sol visto lá de cima tem o sabor de um fim de tarde sonhado no frio europeu, com direito a brisa de calorzinho tropical bom. Dali, Santiago não acaba. Apanhamos metro até casa e compramos pizza no centro, a última tentativa de jantar perto da praça central depois das 10 da noite. Jantámos no terraço do hostel - sim, um terraço de sonho com vista para uma praça de sonho e com um calorzinho de sonho. Dia 1 - o efectivo dia 1 - cumprido. Com uma vista que valeu todas as horas de avião.
A primeira sensação é de pequenez. Sobrevoa-se a montanha gigante, tenta encontrar-se uma vida em miniatura no meio do relevo da cordilheira. A neve nos cumes mais altos contrasta com o tom castanho da erva seca, impotente face à enorme amplitude térmica local. Procurar a cidade de Santiago é, por isso, uma tarefa inglória: é difícil encontrar a capital - ainda que a cidade seja gigante - no meio da montanha. Na verdade - percebemos depois - o aeroporto fica longe da cidade (são uns 25-30 minutos, mais ou menos) e é impossível ver a cidade plantada no meio de um vale. Mesmo que estejamos a várias centenas de metros de altitude.
Chegar a Santiago quase 24 horas depois de ter saído de Lisboa tem um sabor a alívio: as pernas incharam por causa do calor e dos três voos e escalas consecutivos. E do aeroporto de Santiago não se vê nada da cidade. Nas chegadas, dezenas de taxistas tentam impressionar os turistas meio perdidos, entre as ofertas dos balcões e os cartazes A4 na mão dos motoristas. Só que - percebemos depois - de pouco valem os piscares de olhos: na verdade, o preço até ao centro da cidade é tabelado (16 mil pesos chilenos, qualquer coisa como 27 euros). E é para lá que nós vamos.
Plaza de Armas, a nossa vista em Santiago do Chile |
A morada do hostel que escolhemos, um mês antes da viagem - e, para já, um dos dois que decidimos marcar em 11 dias de viagem - é em pleno centro histórico de Santiago. Na verdade, não pensámos muito no assunto e este pareceu-nos bem: boa vista, boa localização, bom preço. Tudo de bom, portanto. Só que, esta nossa impressão foi desmentida pelo taxista que nos levou à Plaza de Armas, não sabemos se por ser mesmo verdade que a praça é perigosa, se por ganhar comissão de nos levar para outro lado qualquer.
Apesar dos desmentidos, lá ficámos no sítio que estava planeado. A chegada mais cedo do que o previsto ajudou a conhecer a cidade logo no mesmo dia. Banho tomado, roupa lavada no corpo - e, muitoooo importante, sandálias nos pés - lá fomos dar uma volta pelo centro de Santiago e aproveitar um dos dois dias planeados na capital chilena. Não sem antes termos dado com um canivete suíço e um monte de moedas escondidos debaixo do edredon da cama do Pedro.
Andámos às voltas pelo centro da cidade, comemos no Dominó - um sítio "muy rico" segundo uma miúda que nos perguntou se estávamos a falar português (tinha estado no Brasil uns tempos e reconheceu algumas palavras). Eles escolheram umas sandes; eu, uma salada de frango, alface, queijo fresco e palmito. Nota para os sumos de fruta: deliciosos.
Depois do almoço, hora de procurar o bairro da Bellavista que, nos guias, é um dos sítios recomendados pelas casas coloridas. Não preciso dizer que tinha altas expectativas para as fotografias em cenário colorido que não foram confirmadas à primeira vista. O bairro não é nada de especial - a Casa-número-um do Pablo Neruda (há três casas do escritor no Chile abertas a visitas) já não tinha vagas para visitas nesse dia e o teleférico e o funicular estão fechados há meses e anos - dizem os taxistas perto da praça da Bellavista. À falta de alternativa - e perante um cenário de um sempre-a-subir-durante-duas-horas-e-um-calor-tropical - decidimos subir de táxi (custa 1000 pesos por pessoa).
Subir ao Parque e à Señora de La Concepción é ter o privilégio de uma vista que não se consegue explicar por palavras. Santiago ganha uma dimensão que ultrapassa muito o imaginável e até as fotografias panorâmicas com que andámos a sonhar durante meses: o pôr-do-sol visto lá de cima tem o sabor de um fim de tarde sonhado no frio europeu, com direito a brisa de calorzinho tropical bom. Dali, Santiago não acaba. Apanhamos metro até casa e compramos pizza no centro, a última tentativa de jantar perto da praça central depois das 10 da noite. Jantámos no terraço do hostel - sim, um terraço de sonho com vista para uma praça de sonho e com um calorzinho de sonho. Dia 1 - o efectivo dia 1 - cumprido. Com uma vista que valeu todas as horas de avião.
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