Cheguei há um ano. Três quilos de bagagem em excesso mais uma mala a mais com 28 quilos [ai meu Deus, e o dinheiro que foi para a pagar], com vontade de mudar o mundo. Abri as malas, despejei-as o mais que pude mas as costas não podiam carregar os mais de quarenta quilos de tanta coisa que já nem sei. Quando entrei pela última vez para colectivo do Tienda León nem consegui chorar: a esperança de voltar daí a um ano era maior do que a tristeza de partir. Afinal, Buenos Aires não ficou na Argentina: veio comigo.
Cheguei a Lisboa vinda do fim do mundo, um-ano-a-mais-no-pelo, mil e muitos sonhos-nos-cadernos-de-apontamentos e muita vontade de voltar a ir. Ainda não fui.
Lembro: não foi a coragem que me levou mas a vontade de crescer. E isso, não é coragem mas ausência de noção de risco. Apaixonei-me.
Buenos Aires mede-se em mim com as batidas do coração: mal fecho os olhos consigo sentir outra vez o cheiro de Santa Fé às 8h30 da manhã, lembro-me de virar a esquina e ir à verdureria, dos meus hambúrgueres favoritos recheados com queijo Edam, dos passeios pelos Bosques de Palermo, da feira de domingo na Plaza Serrano, de trautear tango por San Telmo, de chegar a casa e ter a Sur à espera à porta.
Buenos Aires foi e é ainda o conforto de estar comigo. Com saudades de todos... mas comigo.
Buenos Aires: mesmo que estejas aqui, assim, sempre que fecho os olhos e faço-te estar, confesso-te: morro de saudades.
p.s.: Buenos Aires, ainda bem que apareceste para me lembrar de voltar a escrever aqui.