segunda-feira, 29 de julho de 2013

buenos sábados #13

acordar ainda de noite mas não sentir os olhos a fechar com sono. levantar sem pestanejar, agasalhar o pescoço, pôr uma medialuna na boca e sair de casa. apanhar o colectivo, sair e andar ainda de noite escura no centro de bsas, procurar o terminal, comprar o bilhete, apanhar o autocarro. cidade sem trânsito, viagem rápida para o aeroporto. esperar pelas malas, esperar pelos passaportes, esperar pelos raio-x, esperar por uma espera que nunca pareceu tão longa. abraçar os corpos, sentir-lhes o cheiro familiar, sentir que está tudo bem. eles estão cá comigo. e bsas é ainda mais encantadora.
   

quinta-feira, 25 de julho de 2013

as coisas bonitas deles.

Ter ideias, criar coisas, ver nascer projectos que foram confessados em emails tímidos ou nas entrelinhas de uma conversa de café não é tarefa para qualquer um. Este projecto, contam eles no blog, foi pensado numa conversa de cozinha. Tratando-se do Fred e da Raquel, imagino os cozinhados desse dia retratados em tons pastel, em fotografias bonitas, tratadas uma a uma como se fossem obras de arte. 

Eles falam muitas vezes de "coisas bonitas": é essa expressão que me fica de todas as actualizações de Facebook, de todas as mensagens privadas trocadas entre combinações de workshops em Lisboa, entrevistas no Porto e até um desafio de negócio. Mas o que eles não sabem nem imaginam é que é essa a expressão que mais me inspira de todas as vezes que escrevo no meu blog, de todas as vezes que me obrigo a pegar na máquina fotográfica e a não levar só o telemóvel quando saio de casa, de todas as vezes que me ponho a tirar notas num caderninho feito pela beija-flor da Raquel (e da Su) para anotar coisas que poderiam ser intessantes para escrever, de todas as vezes que me recuso a não deixar passar as "coisas bonitas".  É como quando damos o melhor de nós: não há como receber mau quando se dá bom.    

Coisas bonitas e inspiradoras são as fotografias, os desenhos, os textos e os vídeos - em resumo, a vida toda do Fred, - os cadernos que a Raquel (e a Susana) cosem à mão ou as palavras que ela escreve aqui.  Mas a maior inspiração de todas é quando se pede a principiantes aquilo que se deu: para comemorar um ano de We Blog You, a Raquel e o Fred pediram aos bloggers que inspiraram - e que inspiram todos os dias - a inspirarem outros.  

As minhas escolhas, o meu trabalho, a minha vida, as minhas fotografias, as minhas viagens e tudo o que faz parte do meu mundo vieram à baila no meu "postal de aniversário". Há mais aqui e aqui. Parabéns. Espero que continuem a fazer, seus fazedores! 



segunda-feira, 22 de julho de 2013

instagram de parede.

Ainda pensei nisso: fazer a mala e, além da roupa, dos sapatos, dos colares, pulseiras e anéis, das carteiras a tiracolo, dos livros e dos blocos de notas, juntar-lhe algumas fotografias para enfeitar as paredes e atenuar as saudades. Mas depois, o peso da mala e da responsabilidade de ter que pagar o excesso de uma bagagem para um ano inteiro desfez as dúvidas. Trouxe meia dúzia de fotografias, uma emoldurada, e mais nada.
Recolho postais, cartões bonitos de lojas por onde passo, publicidade com imagens bem escolhidas e recuerdos de exposições e concertos a que já fui. E, entretanto, encomendei bocados do meu instagram a este projecto de fazedores portugueses. Há por aqui muitas outras ideias. Por agora, mato saudades de coisas de lá e vou acrescentando imagens ao meu dia-a-dia. E um dia destes vou entreter-me a organizá-las na parede. Amanhã vou dar uma volta mais longa e sair do conurbano. Amanhã vou à praia.





domingo, 21 de julho de 2013

buenos sábados #12

adiar o despertador até não poder mais. frio. pensar que é o quarto dia sem gás, o quarto dia sem água quente, o quarto dia sem ferver água nem cozinhar o que seja no fogão. e que, mais do que isso, vêm aí mais quatro. ou cinco. manter o pijama polar colado ao corpo, as meias polares por cima para que não entre réstia de frio, que as janelas da sala deixam margem para isso. e isso é o que gela ainda mais a sala quando estão menos de quatro graus na rua. almoço em casa, sopa instantânea de frango e legumes. nhami-not. quarto frio, meias polares substituídas por meias de algodão, calças de pijama polares substituídas por calças de ganga, camisola de pijama polar substituída por t-shirt de algodão mais camisola de gola alta mais casaco mais cachecol. mochila às costas. rua. gelo. acelerar o passo, andar, andar, entrar no café, as mesas cheias no interior, procurar alternativa cá fora que, mesmo com o calor dos cogumelos aquecedores, é gelado. sentar-me e invadir mesa alheia e servir de fotógrafa no dia das amigas [e o que eu gostava de ter cá as minhas]. ir ouvindo as queixas das miúdas sobre os miúdos que dizem que são homens enquanto escrevo mais um fazedor ou, neste caso, uma fazedora. e ver que as coisas não mudam assim tanto e que as queixas e as desilusões são tão mas tão parecidas que às vezes me parece que estou em Lisboa. ficar até fechar, fugir para casa de mãos nos bolsos e revestir o pijama. skype. frio, neste bueno sábado. o décimo-segundo.

sábado, 20 de julho de 2013

frio



Há quatro dias que não há gás em casa, que é como quem diz: não há fogão para cozinhar, não há água quente para tomar banho nem sequer há aquecimento para fazer face ao inverno que parece ter justamente começado esta semana. As temperaturas chegam aos quatro graus. Está frio. E diz que vai continuar, pelo menos até 4ª ou 5ª feira. Temos lá em casa um sol a electricidade que eu viro o mais que posso para mim, para ajudar as meias e o pijama polar. Ideias para vencer o inverno - sem banho e sem aquecimento - no hemisfério sul, há?

sexta-feira, 19 de julho de 2013

café com todos

Tenho saudades do café português. Esta é, aliás, uma das queixas mais vulgares de quem se muda de Portugal para o mundo: o café não á igual, não sabe ao mesmo. Aqui onde estou, o café também não sabe ao mesmo. É mais fraco, mais aguado, com menos sabor. Mas os cafés de Buenos Aires têm outra coisa que, em Lisboa, os meus cafés não tinham.

Pede-se um café e vem um arsenal de detalhes porque, aqui, o café é para tomar com calma enquanto se lê o jornal do dia ou se espreita a revista ou o computador, ou se conversa. Um copo de água pequeno, com ou sem gás. Um pratinho com bolinhos, mini-alfajores com dulce de leche, umas bolachinhas de laranja e limão. Às vezes um copo pequeno com sumo de laranja natural. E o café - aguado, com menos sabor. Há por cá uma rota de cafés tradicionais que eu quero fazer com tempo, uma espécie de roteiro pela história da cidade, dos escritores e dos cantores (Jorge Luís Borges e Carlos Gardel costumavam encontrar-se aqui). 

E há, claro, os cafés já favoritos e que eu repito quando me apetece. Neste, a uns oito quarteirões de casa, há um corredor envidraçado que esconde um café dentro de uma estufa e uma loja de biquínis dentro. A ementa vem num envelope de carta, as mesas ainda sobram durante a semana, os preços são mais baixos do que o habitual por aqui e os clientes não resistem a tirar fotografias. E, à falta de aquecimento em casa - temos o gás cortado há três dias porque a inspecção ainda não apareceu - vou à procura de um sítio mais quente para escrever. Que parece que até pode nevar por estes dias. 











quarta-feira, 17 de julho de 2013

visa

Buen día, como va? Una pregunta... tiene parada en Libertador con Esmeralda. Sí? Dale. 
Uno con sesenta. Um peso e sessenta. Uns 16 cêntimos, se fazemos as contas ao euro trocado no mercado blue, o negro. Uns 23 cêntimos, se fazemos as contas ao euro oficial. Entro no autocarro. São quase nove da manhã. Tenho marcação nas Migraciones, o SEF cá do sítio, às 10h. No site criado pelo governo da cidade de Buenos Aires (uma das invenções do século na cidade e venerado por porteños e estrangeiros, que basicamente, com a morada de partida e de chegada dá todas as opções de transporte e simula a duração do percurso), o caminho entre minha casa e o sítio onde vou tratar no visto demoraria 36 minutos. Uma hora, não vá o trânsito atrasar o "recorrido", não vá o condutor decidir ir por outro caminho, não vá um cego tentar entrar, o condutor não deixar o cão-guia segui-lo para dentro do autocarro e sermos quase parados pela polícia, entre queixas, telefonemas para as autoridades e outros tantos filmes (SIM, sim, já me aconteceu).

O autocarro está cheio, como a quase todas as horas. Há muita gente a empurrar-se, os motoristas perguntam sempre se podem fechar as portas - muitas vezes já´em andamento - porque mal conseguem ver para além doassento que, ainda assim, está à altura da maioria dos passageiros. Escolhi o dia de folga para ir às Migraciones tratar do visto depois de, finalmente, ter todos os papéis que me pediam. Certidão de nascimento e registo criminal português, traduzidos e autenticados com selo da Apostilha de Haya; registo criminal argentino, pedido no centro de Buenos Aires, mesmo perto do Obelisco, depois de quase uma hora na fila mesmo com hora marcada, e depois impresso passados cinco dias, quando ficou disponível no site oficial; certidão de residência, pedida na polícia aqui do bairro e enviada para a minha nova morada dois dias depois; dois comprovativos de que ando a estudar em Buenos Aires e 600 pesos (pouco mais de 60 euros, a la mercado negro). 

Chegada à Esmeralda con Libertador, o motorista faz-me sinal. Saio pela porta da entrada do autocarro - com a devida autorização, por supuesto - e pergunto no quiosque da esquina pela Avenida Antártidas Argentinas. Diz-me que siga, atravesse, e siga sempre em frente. Vou dar com ela. Ando, atravesso e volto a perguntar. O dia está bonito, sol de inverno quente (devia ter levado os óculos de sol) e vento frio. Pergunto outra vez: dois rapazes distribuem papéis a promover a esquerda contra governo e apelam a uma manifestação, esta terça, dia da independência, na Plaza de Mayo. Este é o país das manifestações, dos paros. Esta segunda, por exemplo, não havia dinheiro nos multibancos: havia greve de camionistas, encabeçada por Hugo Moyano, um dos líderes sindicalistas argentinos e que integra a lista de De Narváez (o tal político a quem nós tivemos a oportunidade de fazer algumas perguntas naquela conferência de imprensa preparada pelo mestrado e que é um colombiano, rico, dono de várias de empresas e que resolveu em 2002 dedicar-se à política - e que chegou, depois, a ganhar a Nestor Kirchner...mas isso são outros quinhentos).

Sigo pelo Retiro. Muito lixo no chão, muito camião, muito autocarro, um descampado cimentado, se riscos no chão e com poucos semáforos onde os peões se sentem a mais. É isto, basicamente. Ando uns 15 minutos, pergunto outra vez. Uma rapariga diz-me que acha que estou a andar na direcção errada. A avenida não tem números, não consigo revê-la no mapa. Tenho o número guardado no telemóvel. Sigo pelo lado direito, atravesso sem semáforos nem passadeiras, tento ouvir as conversas das pessoas que estão nos passeios a ver se alguém fala na palavra mágica: Migraciones. Dois homens, engravatados, sotaque argentino, são apanhados no meio da conversa. Sigo-os. Passamos pela central dos correios (penso no quanto gostava de lá fazer uma reportagem para tentar perceber porque raio o correio demora duas semanas a chegar, seja azul ou normal), passamos pela Armada, vários rapazes fardados tocam corneta. Finalmente, num edifício baixo, pintado de um amarelo que já pouco se nota, um placard anuncia. Uma hora e meia depois, estou lá. Nas Migraciones. Entro, a escada para os estrangeiros Extra-Mercusur está tapada com uma secretária. Um segurança pergunta-me de onde  sou, Portugal, respondo. E diz-me que sim, que posso passar, que estou bem. Pergunta-me se tenho tudo. Passaporte, vez marcada na internet e uma fotografia tipo passe. Fotografia? Como assim, fotografia? Não tenho. E, pior do que isso, é não ter dinheiro para a tirar. Diz-me que posso voltar à estação do Retiro e tirar lá. Ora bem, passo a explicar: greve de camionistas, 604 pesos na carteira, multibancos fora de serviços, manhã perdida. Estamos entendidos? Pois sim. Chego à estação. Multibanco fora de serviço. Pergunta a um polícia. Diz-me que há mais, mais longe, mas que também não devem ter dinheiro. Ora bem. Sheraton, pode ter menina. Vá lá ver, 10h45. Sheraton. Desculpe, mas nem para os hóspedes temos. Às vezes vêm enchê-lo duas vezes por dia. Muito obrigada, até à próxima. Há mais dois multibancos nas redondezas. No primeiro, já há autocolantes colados nos ecrãs. Fora de serviço. Segundo, um Santander escondido no meio de tapumes, com canos à vista à entrada e uns andaimes sem cor. Olhar de esperança de quem estava na caixa antes de mim. 11H00. Yes! Há dinheirooooo!!!

Pois bem, dinheiro levantado, é preciso tirar as fotografias. Na busca pelo multibanco, havia uns miúdos nas traseiras de uma bomba de gasolina a oferecer-se para tirar fotografias. Fundo branco, 25 pesos, espectacular. Lá vou eu! Eu quero, eu quero. Ora bem, vá com este boludo à estação? Como assim, outra vez à estação? Lá vou eu. Tirar fotografias, lindas como sempre, favorecedoras como sempre. Quatro metidas dentro de um saquinho de plástico transparente, dê-me cá as outras quatro, no hace falta que se quede con ellas. 30 pesos, lá vou eu, 11h15, migraciones. Fila número 1, impressões digitais, fotografia colada num papel que me atribui a vez. Número D48, vai no 44. Não há-de faltar muito, não é verdade? Não. 40 minutos depois, lá vou eu. Um homem careca, de barba, pede-me os papéis. - Este está bem, este também, mas vai ter que voltar para a semana. Como assim, voltar para a semana?. - O seu registo criminal não podia ter sido traduzido em Portugal. Mas foi o que me disseram na Embaixada da Argentina em Lisboa. - Disseram mal, eles não sabem. Vá a esta morada, peça um contacto de um tradutor. Depois, peça ao tradutor para traduzir, pague-lhe, e volte a esta morada para ser Certificado. E depois volte cá, mas atenção às datas, porque isto expira num mês. 

Meto-me num táxi, sigo directa para a morada. 25 pesos. A morada não existe. Eu procurava o 819. Passa do 801 para o 821. Muito bem, que catita. Entro numa loja, pergunto se sabem onde raio está o número, que me disseram nas Migraciones que o colégio de tradutores seria ali. Que não, que não sabem, mas que se quiser podem ver na internet. Agradeço, muchas gracias. Parece que a morada é outra, a quatro quarteirões, noutra rua, noutro número. 13h30. Sumo de laranja num Starbucks. Sigo para o Colégio, entro, pergunto. - Pode escolher entre estes 40 tradutores, ir lá, falar com eles, perguntar quanto custa e quanto demora. Pedir a tradução. Mandar fazer, e depois voltar cá para certificar. São 110 pesos, se quiser no mesmo dia. 105 para o dia seguinte. Aqui na Argentina é tudo complicado, parece que nada funciona, comento. O segurança, sentado ao lado da recepcionista, responde indignado. "Não venha para o meu país dizer mal que eu não vou para o seu dizer mal do seu, pois não?" Ora bem, para aprender a estar calada. 

Escolho vários, aponto os contactos num papel. Há um no prédio do lado. Saio, toco à campainha do lado. Subo, pergunto. 200 pesos para a tradução, mais 110 se quiser a certificação. Tem a certeza que posso fazer aqui? De certeza que das Migraciones não me mandam isso para trás? - No, tranquila! 

p.s.: Este texto foi escrito na semana passada, no dia da minha estreia nas migraciones. Voltei lá esta semana. Uma hora depois estava safa, de precária na mão. yeah!

domingo, 14 de julho de 2013

procurar inspiração


50 Regras de Gestão dos Fazedores:
póster publicado na edição de 1º aniversário do Dinheiro Vivo

A inspiração não é uma coisa de entranhas nem de um pensamento solitário que não quer receber inputs nem feedbacks. Ao contrário: parece-me que a inspiração vem muito mais da rua, das caminhadas ao sol, das corridas a fugir da chuva. Às vezes vem de um par de sapatos que sirva todos os caminhos a percorrer, como a da Filipa e da Maria para criarem a Josefinas. Outras, de uma agenda cheia de contactos que pode servir para ajudar outros nomes da lista a fazerem negócio, como a Inês, que se lembrou de fundar a Connect Club. Outras ainda, de uma vontade comum mesmo que a milhares de quilómetros de distância, como a da Rosário e da Mónica que, entre Madrid e Hong Kong, pensaram e criaram uma marca para turistas e viajantes.

Fui-me apercebendo também, ao longo destes mais de dois anos a escrever sobre Fazedores, que a inspiração vem, muitas vezes, da insatisfação. De um trabalho que já não alegra quando o despertador toca, de uma rotina que já não traz nada de novo, de um sonho posto em suspenso durante anos e que, de repente, por uma ou outra circunstância, passa a fazer sentido.
Já não sei quantos foram mas sei que foram centenas. O número de Fazedores que o Dinheiro Vivo deu a conhecer desde Junho de 2011 é ainda pouco para os nomes e as histórias que aparecem, todos os dias, aos nossos olhos.

Este fim-de-semana, em Buenos Aires, conheci a Rita. Soube por uma amiga que ela também estava por cá e decidi mandar-lhe uma mensagem de Facebook. Café combinado, encontrámos muita gente em comum, amigos de amigos, interesses partilhados. No meio da conversa, falámos dos Fazedores. Eu disse-lhe que escrevia sobre eles, ela disse-me que decidiu fazer uma pausa no trabalho como jornalista e mudar-se para a Argentina para estudar outra coisa, não só mas também por causa deles. Em última análise, o livro de Fazedores que o Dinheiro Vivo ofereceu na conferência que comemorou o 1º ano de site foi um dos motivos que permitiu o nosso café em Buenos Aires.

A cada entrevista de Fazedores, confesso, tenho vontade de fazer o que eles fazem. Não é uma questão de ideia ou de negócio. É uma questão de inspiração. Os meus Fazedores são as pessoas mais inspiradoras que eu conheço. A vontade de fazer que eles contaram - e que o Dinheiro Vivo publicou - contagiou a Rita. E eu, mesmo que só um meio para a mensagem que desencadeou essa mudança, nem sei explicar bem o que senti. 

sábado, 13 de julho de 2013

buenos sábados #11

acordar sem despertador é de sonho. tomar o pequeno-almoço de pijama, sofá a fazer de cama improvisada, uns ovos mexidos com cogumelos frescos e um sumo de laranja natural a fazer as vezes do habitual iogurte com torradas, hoje com honra de sábado. tomar um banho e vestir devagar, com tempo de sobra para o creme de cabelo cheiroso e um secador à potência média, a gozar com o despertador que recusei ligar. voltar à casa de chá como prometi e esperar por conhecer a Rita, portuguesa, também a viver em Buenos Aires (quase quase apanhávamos o mesmo avião). um café em chávena grande e conversa puxa conversa, com mais coisas em comum do que podíamos esperar por um contacto feito pelo Facebook. passeio a pé, passeio de autocarro, Recoleta. chegar ao concerto de borla mesmo antes de começar. elogiar as vozes, os cavaquinhos e o engraçado que é haver um músico de chapéu, calções curtos e que toca sacos de plástico. conhecer banda nova e gente nova. gente que fala a mesma língua com sotaque diferente. passar por um casamento, descobrir tantas coisas entre teorias de Foucault, combinar almoço para amanhã entre uma e outra Quilmes em plena happy hour. é isto, um bueno sábado. e vão onze.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

buenos sábados #10

sábado redondo de pijama no sofá até às tantas, computador em cima do colo, tal como deve ser um sábado de fim de semana grande, com folga e feriado incluídos. compras e almoço em casa. recolher papel que faltava para o visto na futura morada e correr en subte para a primeira peça de teatro em terras porteñas. pensar que posso andar sem perguntar e perceber que, se não apanho um táxi, bem posso ter a certeza de que chego atrasada. peça surreal, vinte minutos na paragem do autocarro, outros trinta no caminho para casa. desafio de bar - um bar em que eu já sou repetente - a falar português, primeiro, e depois misturá-lo com sotaque venezuelano. frio na rua, andar até casa, aconchegar o cachecol às três da manhã com dez graus na rua. sábado redondo em bsas, o décimo.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

dois meses de bsas.

Há as palavras dos poetas que eu reconheço nos meus dias, quando me lembro de versos decorados. Os sonhos todos do mundo em mim, o querer ser grande para ser inteiro, as pedras no caminho e outros tantos que inspiram - em que nos reconhecemos sempre que lemos, relemos, voltamos a ler.
Depois, além dos poetas que falam e escrevem em português, há a vontade de fugir aos jornais diários - já que à televisão fugi já há muito tempo - há uma revista encomendada e uma queijada-surpresa, trazidas em correio express dentro de uma mala de mão num avião (juntamente com o cash sempre tão preciso neste país onde um euro pode valer metade ou o dobro, dependendo do sítio onde se troca). Os dias aqui são diferentes: tenho mais tempo para pensar no agora e no que aí vem. Tenho mais tempo para pensar nas amigas que deixam de escrever para o jornal diário - hoje foi uma, na semana que vem será outra - não por falta de talento mas por falta de oportunidade. E aí, nesse poema dos dias que podia muito bem ser transformado num fado sem refrão - ponho em perspectiva a decisão de há três meses, a notícia que chegou depois de tantos planos feitos na minha cabeça, os anúncios e os pedidos que fui fazendo, a histeria dos amigos que me querem perto querendo-me bem, a alegria tímida dos pais que não sabem se hão-de rir ou de chorar perante os mais-de-nove-mil-quilómetros-de-distância.

Há aqui a urgência dos dias que passam rápido, a aflição de, para onde quer que queira ir, tardo a chegar, a certeza de que é isto que eu quero fazer, de que é disto que eu gosto. Há o quentinho de um mate com água não fervida quando chego da rua, onde há frio de um inverno que, mesmo assim, parece ainda não ter chegado. Há aqui a surpresa dos percursos nunca feitos, o conforto com as expressões repetidas - mira vos boludo, qué bien hablas, qué se yo! -, o prazer de chegar a casa e poder não pensar em nada ainda que não seja capaz de o fazer. Há nesta cidade - no facto de estar aqui - uma sensação de que, há um ano e meio, quando cá vim pela primeira vez, prometi voltar e cumpri a promessa. Por isso, há vontade de descobrir mais: há tantos parques quanto avenidas gigantes, tantas expressões quanto horas de ponta. Há investimento em livros em 2ª mão recomendados que me podem servir de inspiração para coisas que ainda não sei que posso fazer. Tenho esse tempo, já sei. E essa oportunidade foi criada não só mas também por mim.